A opinião de ...

A RECREAÇÃO COM CANNABIS

Dizem que o futebol é o ópio do povo, mas há quem já o queira substituir!
Assim, talvez por entre os pingos da chuva, os resultados da nossa principal seleção de futebol e a canícula que começa a assomar-se, não se vislumbrou debate algum sobre a proposta (que ainda vai ser debatida na especialidade brevemente), do Bloco de Esquerda e da Iniciativa Liberal, sobre a legalização da produção e consumo de cannabis.
Propõem basicamente estes partidos “a legalização da canábis para consumo pessoal não-medicinal, passando a lei a regular os aspetos da produção e do cultivo, da comercialização, da aquisição, detenção e consumo da planta ou derivados”.
Quanto ao Estado, propõem que regule “todo o circuito de cultivo, produção e distribuição” e crie “um imposto especial sobre a venda de produtos de canábis para fins recreativos e defina o preço recomendado por grama, equiparando ao preço médio praticado no mercado ilegal, de forma a combater o tráfico”.
Aduzem como argumentos “a redução do consumo problemático, o combate eficaz ao tráfico de droga e o crime associado, ao mesmo tempo que promove a saúde pública, a segurança, responsabiliza os cidadãos e previne dependências”!
Isto acontece (mais uma vez?) perante a atitude dos nossos políticos de ignorar os cidadãos e a complacência da sociedade que se preocupa mais com a marquise do Ronaldo e menos com os prementes problemas e desafios que temos de superar.
À vista disto, não obstante haver por parte dos signatários da proposta uma baixa perceção do risco, no estado da arte disponível em consulta digital é referido que o seu consumo pode afetar o “sistema canabinoide do cérebro”, uma zona que se encarrega, entre outras questões, de regular as emoções pelo que podem daí surgir transtornos mentais.
Constata-se que a par deste há outros riscos também graves, nomeadamente, a nível de rendimento, com uma aprendizagem mais pobre, afetando a cognição e a memória, e a nível de resposta/reação, triplicando-se por exemplo os acidentes de automóveis, pela diminuição do tempo de reação e dividindo-se e alterando-se a atenção.
Indica-se inclusive que o consumo abusivo pode desenvolver uma dependência (com consequências negativas também quando se cessa o seu consumo) e a possibilidade de alguma enfermidade mental (a evidência científica relaciona mesmo o consumo com o desenvolvimento de psicoses, transtorno de ansiedade e depressão). E se o consumo se efetuar na adolescência as consequências podem ser piores...
Posto isto, há aqui pontos que me parecem essenciais analisar e se deviam ter em devida conta pelos problemas que levantam: se o consumo cria vício e se a condição neurológica de uma qualquer pessoa tem uma predisposição para desenvolver esquizofrenia, o consumo desta droga pode potenciar isso, sendo uma alavanca, um rastilho, vamos facilitar o seu acesso? “Se pode ser usado para diminuir a dor em certas situações”, então porque não se isola o princípio ativo e toma-se como outro comprimido qualquer? Vamos assistir ao Estado a fixar o preço de venda de uma droga para competir com traficantes? Em que lugares é que vai vender? Em qual organismo do Estado? E vai na mesma conseguir-se proibir o acesso a menores? Se andamos a limitar ao máximo e a quase proibir o consumo de tabaco vamos agora promover o consumo de cannabis? Para diversão!? As preguntas são numerosas... e o debate não foi feito!
Parece que Portugal se encontra assim mais uma vez em contraciclo e, mais uma vez, sobre uma proposta do Bloco de Esquerda, do qual não se pode dizer nada contra porque se não é-se logo apelidado de reacionário e que se está a ir contra o progresso!
Mas também neste caso, se quisermos respeitar a verdade dos factos, temos de seguir a ciência e não só quando ela nos dá jeito. Há aqui uma parte emocional a pensar que consumir cannabis é algo porreiro e divertido, mas não é verdade.
Há tantas coisas mais saudáveis para todos nós nos divertirmos!

Edição
3838

Assinaturas MDB