A opinião de ...

Ciclos: o novo e o velho

Em crónica publicada aqui no Mensageiro referi-me a uma experiência da investigadora Isabel Gordo. Nomedamente sobre o paralelismo eventualmente existente entre as regras da biologia e o comportamento social. Um almoço na esplanada da Cantina do IGC veio reavivar o tema, esclarecer alguns aspetos e comparar alguns exemplos. Agradou-me saber que a minha teoria, não despertando adesão entusiástica (porque haveria de o fazer?), também não era recusada nem totalmente contestada pelos comensais. Pelo contrário o princípio de que as leis da biologia, tendo imposto a sua marca e sobrevivido a milhões de anos de evolução e seleção natural, terá as suas virtualidades e há quem, fundamentadamente, estabeleça vários paralelismos.
Reconhecido, tirei as minhas anotações e continuei a procurar suporte documental e factual para as minhas convicções. Estou a ler um livro que recomendo “A Biologia como ideologia” e as notícias da semana encaixam perfeitamente na referida experiência do grupo de Biologia Evolutiva liderado por Isabel Gordo. Os investigadores do IGC colonizaram o intestino de alguns ratinhos com bactérias de duas estirpes diferentes em proporções idênticas. A monitorização da evolução das colónias veio demonstrar que após um período de alternância equilibrada (ora era uma a maioritária, ora era outra), subitamente aparecia no seio de uma, da outra ou em ambas uma outra estirpe, resultado da mutação bem sucedida de alguns sucedâneos, que começava a desenvolver-se e, facilmente, ocupava um lugar de destaque conquistanto espaço vital à sua colónia de origem. Nalguns casos acabava por dominar completamente todos os concorrentes... noutros, nem tanto. Começava aí um novo ciclo.
Entre outras evidências, as declarações da ministra da Justiça vêm demonstrar, se dúvidas houvesse, do aproximar do fim de um ciclo. Só um governante em vésperas de se despedir do poder pode afirmar sem corar de vergonha que ao telefone fala diretamente para o gravador, sendo nela que os eleitores confiam para garantir que as escutas que existem são exclusivamente as determinadas na lei. Não entendo como não se cobre de ridículo ao promover a exclusão das Assembleias e Câmaras Municipais os cidadãos que exerçam advocacia. Não podem, na douta opinião da advogada, exercer qualquer função nas autarquias, mas na Assembleia da República, não vislumbra qualquer inconveniente. Pelos vistos nem no Governo! Perante tal desplante e falta de bom senso seria natural que o partido alternante crescesse a olhos vistos. Mas as sondagens não dão conta de nada parecido. Tranquiliza-nos o Presidente do PS que o essencial é que, mesmo que com pequena vantagem, são os socialistas que vão à frente. E é verdade. Mas também é verdade que no tempo do António José Seguro também o PS ia à frente. Não só nas sondagens mas igualmente nas eleições europeias. Por pouco, é certo, mas liderava. E foi precisamente por isso, que os que agora olham com tanta naturalidade para este avanço diminuto que galhardamente expulsaram da liderança partidária os antigos dirigentes. E cuja única legitimação que encontraram, foi exatamente essa. E nenhuma mais.Ora se uma das forças dominantes fraqueja e a outra não lhe ocupa o lugar, o horror que a natureza tem pelo vazio vai proporcionar o aparecimento de uma outra alternativa. Que na Grécia e Espanha é bem visível, embora, em Portugal, o exemplo que encontro nas experiências biológicas situa-se nas franjas marginais dos resultados observados em que nenhuma das mutações provenientes das colónias existentes se assume num lugar preponderante nem ameaça qualquer das originais!

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3510

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