A opinião de ...

O PARCEIRO

Impõe-se que comece está crónica com uma declaração de interesses: no PSD, meu partido de sempre, encontro-me na ala social-democrata, mais à esquerda, e é aí que sou, normalmente, identificado. Facto que não me tolda a razão, não me radicaliza o discurso nem me impede de ter, na política partidária, um olhar realista e pragmático. Apesar de ideologicamente me auto-situar ao centro do nosso espetro político e, como tal, com alguma proximidade da corrente centrista do PS, sei bem que o parceiro natural do PSD é o CDS e sinto-me confortável com as coligações que com este partido têm sido feitas, seja para governo da nação, seja para a liderança autárquica. Não só porque entendo que a democracia se enriquece mais com quem tem ideias diversas, mas também porque os centristas têm vindo a adotar bandeiras e causas sociais que me são caras. Acresce que uma possível aliança com o PS é contranatura por serem partidos alternativos que, unidos, enfraquecem a Democracia como pretérito e de má memória Governo do Bloco Central tão bem demonstrou.
O facto de ser, normalmente, minoritário, em nada diminui o papel e a importância do CDS nas coligações, bem pelo contrário. Contudo parece acontecer que os dirigentes social-democratas, valorizando embora o papel do parceiro na altura de somar apoios, antes ou logo a seguir às eleições, frequentemente são tentados a subalternizá-lo quando acomodados na cadeira do poder. Esquecem que liderar uma coligação não é o mesmo que liderar um partido e que o mecanismo que amansa e cala as oposições internas não funciona de igual forma com outros grupos que apesar de coligados mantêm, como deve ser a sua identidade própria e legítima. É com alguma surpresa que vejo dirigentes do meu partido sentarem-se em certezas empiricamente construídas. Acham que o exercício do poder beneficiará seguramente quem o encabeça por ser quem o exerce em condições de privilégio. Nada mais errado. Mesmo em condições de governação bem sucedida e em condições favoráveis , tal teoria nunca foi demonstrada, não passando, portanto de uma presunção teórica. Pelo contrário, governos menos bem sucedidos foram, em eleições seguintes bem mais penalizantes para o PSD que para o CDS.
A “mercearia” da composição das listas de candidatos não se deveria sobrepor à ética que é suposto reinar entre companheiros de caminhada. Um parceiro não é uma bengala. O CDS não terá capacidade de, sozinho, chegar ao poder. Mas tem, seguramente, na mão a chave de muitas portas que se não forem abertas, o PSD não terá as condições necessárias para aceder, em condições adequadas, ao exercício da governação. Confundir lealdade com subserviência, tomar por aceitação incondicional, a colaboração empenhada e leal, é pura cegueira.
A renovação da confiança eleitoral passa sobretudo pela boa-conta em que os eleitores nos tomem. Como queremos que nos valorizem se não formos capazes de reconhecer o valor dos que connosco partilham as agruras da caminhada?

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3520

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