A opinião de ...

Transmontano

“Primeiro estranha-se, depois entranha-se” disse Pessoa. Mas nem sempre é assim.
Esta é uma crónica muitas vezes adiada à espera que o vaticínio pessoano se concretizasse. Em vão! Por mais esforços que faça, não consigo encontrar outro registo, outra definição, outra identidade. SOU TRASMONTANO! Com gosto, com orgulho e, sobretudo, genuinamente. Não sou duriense. Nem eu nem as dezenas de amigos que conheço na minha situação. Nem tão-pouco outros tantos ou mais que me reconhecem, quer por saberem as minhas origens, quer porque o meu sotaque denuncia as minhas raízes. “É transmontano, não é?” perguntam-me frequentemente ao que, claro, respondo afirmativamente. Sou transmontano, sou do nordeste. Nunca me confessei duriense.
É certo que o Douro tem um lugar na minha vida e na dos meus conterrêneos. Lugar discutível nem sempre pacífico. A poética vénia que o rio faz à Vilariça foi também, vezes sem conta, um beijo mortífero quando a invernia o impelia vale acima na destruidra rebofa, colhendo e destruindo o renovo, as vinhas, os pomares e, sobretudo, o trabalho e os sonhos de um ano de labuta e sacrifícios. É certo que foram as rebofas antigas que fabricaram o húmus dos barrais e das canameiras fonte de fertilidade do encantador Vale nordestino. Seja o que for, Douro é um rio. Que bordeja Trás-os-Montes, que define a leste e sul os limites do distrito brigantino. Mas é apenas um rio. Eu não sou de um rio. Ninguém é de uma fronteira. Eu sou de uma terra. De uma região. Sou transmontano. A minha região é o nordeste.
 
Não entendo pois esta associação de três municípios brigantinos à CIM DOURO. Custa-me a entender que a identificação de Moncorvo, Carrazeda e Freixo com Mesão Frio, Lamego e Tarouca sejam superiores às que manifestamente existem com Vila-Flor, Alfândega da Fé e Mogadouro. Que relevo adicional têm estas autarquias transmontanas (continuarei a chamar-lhe assim) que não tinham na CIM Trás-os-Montes? Que identidade perdida vieram recuperar as populações destas autarquias? Que desenvolvimento adicional lhes trará um rio que continuará a ser a fronteira de uma região centenária, pertença-se ou a uma região com  o seu nome?
 
Haverá, seguramente, poderosas razões. Que o facto de eu as desconhecer não deixarão de ser enormes para afastar as populações de três concelhos das decisões comuns que, durante centenas anos partilharam. Por mim, respeitando embora as decisões legitimas de quem tinha poder para as tomar, nunca irei sentir-me duriense. Transmontano sim. E nordestino. Brigantino, sempre.
 

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3495

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