A opinião de ...

A vacina natural

No que diz respeito à Covid19, sou adepto incondicional da vacinação global nas doses e nas faixas etárias consideradas como adequadas pelos especialistas. Contudo não pertenço ao grupo que entende que as vacinas são a panaceia para os males, chegados, recentemente, pelo tempo conturbado em que vivemos. Se assim fosse, depois do celebrado e reconhecido sucesso que foi a operação conduzida por Gouveia e Melo, andaríamos já todos sem máscara, aos abraços e beijinhos, convivendo alegre e descontraidamente, como acontecia há dois anos atrás. Obviamente que o processo vacinal, sendo uma etapa importante do combate ao Corona Vírus, não é tudo. São necessárias outras medidas complementares, mais ou menos restritivas. Contudo não posso subscrever a afã proibicionista que, de repente, se apoderou de uma determinada elite que se autoelegeu como detentora da verdade e protetora dos incautos. A vida não é a preto e branco. Entre a radicalismo dos negacionistas anti-vacinas e o extremismo dos defensores do fecho e confinamento de tudo e mais alguma coisa há uma enorme variedade de opiniões e posições que, primando pela moderação, aceita muitas outras soluções, ponderadas, racionais e, sobretudo responsáveis. Porque a responsabilidade reside na tomada de decisão, conhecendo minimamente os prós e os contras (que os há, em todas as circunstâncias) e optando conscientemente pela situação que, em cada momento, melhor satisfaz os objetivos pretendidos. É verdade que o uso obrigatório e generalizado de máscaras, a proibição de ajuntamentos e o confinamento rigoroso de toda a gente é uma forma eficaz de combater a pandemia, como aliás já ficou demonstrado.
Porém, a que preço?
Foi estranho e, parece-me, despropositado o pânico com que se recebeu a nova variante ómicron, só porque, comparativamente com outras, tem uma capacidade substancialmente maior de transmissibilidade. A gripe também é facilmente transmissível e, convivendo connosco “desde sempre” não nos obrigou nunca a tamanho aparato protecionista. Devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para nos protegermos, a nós e aos nossos semelhantes? Claro que sim. Mas é bom não esquecer nem minorar o reverso da medalha ou seja, quais os males associados a tal benefício. Os recursos não são ilimitados e, naturalmente, quando alocamos meios a este desiderato, inapelavelmente teremos de os subtrair a outras finalidades e, como é bom de ver e o passado recente já o provou, causar dor, sofrimento e morte, devido à menor atenção dada a outras enfermidades, também graves e preocupantes. Para além do sofrimento real que o afastamento causa, sobretudo aos mais frágeis e vulneráveis.
É bom não esquecer que o princípio das vacinas passa precisamente pela indução de um agente idêntico ao que causa a doença, mas menos agressivo e controlável. Embora neste caso tenha havido outras estratégias, a Valneva já anunciou uma vacina baseada no próprio vírus, inativado. Igualmente os que sofreram a doença e recuperaram, ganharam uma defesa que os dispensou de uma das duas doses das vacinas aplicadas. Porque o que verdadeiramente interessa não é o número de infetados mas a percentagem destes que a moléstia causa sofrimento, danos graves e, no caso extremo, morte. No limite, se os sintomas não forem penosos, uma variante que se propague rápida e facilmente, se não for agressiva e vier com sintomas ligeiros ou aligeirados, poderia, inclusive, funcionar como uma vacina natural e, nesse caso, quantas mais pessoas fossem infetadas, melhor!

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