Agora Chuto Aqui!...Este mundo e…o outro!....
É com maior naturalidade, até em jeito desabafo, que ouvimos dizer, muitas vezes, que, este mundo está perdido.
Pois, pelos vistos, só conhecemos “este mundo”, aquele em que nascemos, crescemos, vivemos e, até, morremos. Sobre isso não restam dúvidas, a ninguém, presumo.
Porém, também não é difícil concluir que neste mundo, se desenvolvem e giram muitos outros “mundos”. Multicolores e de vários quadrantes. Para todos os gostos, diria. Um significativo número deles, pouco recomendável, a todos os níveis, sobretudo no que toca à moralidade, à ética, ao desenvolvimento de valores educativos e formativos e à sã convivência social. Neste caso, pretendo, apenas, e de forma breve, referir-me a dois mundos, o da bola, ou seja do futebol, e o outro.
É que, pelos vistos, são dois mundos completamente diferentes, embora do mundo da bola, façam parte pessoas do “outro mundo”. Sendo certo que se trata das mesmas pessoas, parecem protagonistas completamente diferentes, em função das circunstâncias e dos contextos.
Não obstante as expetativas e as referências já não serem muito positivas no que toca à serenidade e seriedade, no mundo da bola, representações sustentadas no que se tem sabido e vivido ao longo dos anos nestes meandros, a verdade é que, os últimos dias têm sido pródigos na mediatização de notícias e comentários que nos deixam embasbacados.
O caso de corrupção e de comportamentos desmoralizados ao nível da FIFA, o da saída de Jorge Jesus do Benfica para o clube rival, vizinho do lado, Sporting, bem como o processo de despedimento do, até à pouco treinador da equipa sénior, Marco Silva, podem levar-nos a refletir um pouco, sobre a forma como nos comportamos em relação ao mundo da bola e ao outro, mesmo até ao mundo da política.
Ao observarmos as atitudes, os comentários e análises de especialistas e até do cidadão comum, não deixa de ser curioso o modo como as pessoas se posicionam.
No futebol, ou seja, no mundo da bola, dá a ideia que tudo é permitido e que a justiça e a moral, que se exigem noutros domínios da vida pública, deixam de ter validade para o futebol.
Fico incrédulo quando chegam ao conhecimento público prémios e vencimentos auferidos por uma só pessoa, que chegariam para pagar milhões de salários mínimos, ou subsídios do Rendimento Social de Inserção, e que quem nos governa jamais conseguirá legalmente receber, e ninguém se insurge contra isso. Quando as pessoas se preocupam com o despedimento de um treinador que ganha milhões, mas, ao mesmo tempo, nada fazem por um trabalhador que foi despedido, com encargos e família para sustentar, e ganhava o ordenado mínimo. E, aqui, até os defensores dos trabalhadores, sindicalistas, jogam com um “pau de dois bicos”. De facto, não deixam de ser curiosas estas moralidades, estas posturas éticas, destes defensores do proletariado.
Imagine-se, por exemplo, o que seria um líder político mudar de partido, para um rival, por motivos meramente económicos, o que se diria e falaria…
Não diria que o mundo está perdido, mas que não abonam em nada para o equilíbrio e justiça social, todos estes processos, pouco claros e nada dignificantes, que se vivem no outro mundo, no do futebol, que desvirtuam completamente o espírito da modalidade, não tenho dúvidas que é verdade.
Mas difícil de compreender é, ainda, toda a mediatização que envolve estes assuntos da bola, cujos exemplos são pouco recomendáveis, e são esquecidos muitos problemas e dramas que têm uma dimensão social e humana bem maior.
O nosso mundo não pode, não deve ser, nem viver disto, da bola, com tanta intensidade e valorizar de forma tão exagerada tanta gente, com duvidosa honestidade.