Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Samil. Samil: Castanheiro do Senhor!
Aldeia e freguesia, Samil dista 3km a Sul de Bragança. Vestígios rupestres, como a «Fraga do Selvage», situam o território na pré-História, os castrejos do «Castanheiro do Senhor» e do «Castrilhão» dão-nos a ideia da sua antiguidade habitacional. Na Idade Média, a «Vila de Saamir» pertencia à coroa, a fábrica da Igreja corria por conta dos paroquianos, que também zelavam, em ‘Conselho Comunitário’, pela boa utilização e usufruto dos campos de pasto, e o Mosteiro de Castro de Avelãs detinha terrenos no povoado. A décima da Igreja também era dividida, em partes iguais, com o arcebispo de Braga e com o pároco. Além do lugar de Cabeça Boa, de Samil fazia parte o povoado de Izei, cuja Igreja de S. Lourenço foi taxada por D. Dinis em 25 libras, em 1320-1321. Esse povoado acabaria ermado com o passar do tempo, sendo a imagem recolhida, já no século XVIII, na Igreja do Loreto, em Bragança. Um dos aspetos curiosos em relação a Samil prende-se com o ‘estatuto’ de «Ourolo». Por estar nas imediações da comarca de Bragança, era isenta do pagamento das Oitavas (quatro alqueires de pão), que constituíam receitas da Câmara de Bragança. Como contrapartida, os habitantes rondavam as muralhas da urbe durante a noite, varriam as ruas em determinados dias e limpavam a cadeia.
Comenda da Ordem de Cristo desde 1514, a partir de meados do século XVI Samil insere-se na esfera eclesiástica do Bispado de Miranda. Como a ‘cabeça’ da Ordem estava na Igreja de Santa Maria, em Bragança, era prerrogativa do respetivo prior apresentar o cura da paróquia. Aquando da publicação das «Memórias Paroquiais de 1758», Samil detinha como templos religiosos, além da Igreja de Nossa Senhora da Assunção, as Capelas do Divino Senhor Jesus, no lugar de Cabeça Boa, e a de S. Roque. A Igreja Matriz tinha, então, dois altares colaterais: “hum de Sancta Catherina, e outro tem hum Sancto Christo”, este com irmandade. Atualmente, existem ainda as capelas de S. Judas Tadeu e, na Fundação Betânia, da Sagrada Família.
Reconstruída no decénio de 1780, a Igreja Matriz é de risco arquitetónico do Barroco tardio e decoração interior Rocaille. O frontispício, avançado e mais estreito que a estrutura do edifício, é sustentado por dois pilares toscanos, coroado por pináculos piramidais. O portal é de verga reta de dupla cornija, com data 1784, sobrepujado por frontão volutado, interrompido por Cruz relevada e delimitado por pináculos bulbosos. Junto à cornija, a truncar o frontispício, sobressai decoração estilizada em granito. O campanário, rematado em empena, coroado por Cruz latina, ladeada por pináculos triangulares com bulbo, acolhe dupla sineira em vãos de arco pleno.
O tríptico de altares rocaille, policromados e de três eixos, destaca o ‘recheio’ do interior, onde também pode ser apreciado um presépio embutido em confessionário. Os altares laterais, junto ao arco triunfal, confrontantes e gémeos, estão encrustados em arcossólios dos altares precedentes. A mesa é em forma de urna, o sotabanco, a suportar o retábulo, tem sacrário aparente, e o nicho central é de volta perfeita. O do lado do evangelho acolhe Nossa Senhora de Fátima e o da epístola Santo António com o Menino. Entre coluna ‘canelada’ e pilastra com marca dourada, expõem-se as imagens laterais dos retábulos, em moldura de arco conopial, com rocalhas: Santa Luzia e Nossa Senhora do Rosário; S. Sebastião e Santo Estêvão. O ático compreende pilastras e cartela em vaso, de decoração vegetalista. No presbitério, datado de 1787, a novel mesa das celebrações tem o Peixe Crístico (ΙΧΘΥΣ). O Altar-mor, de coloração diferente dos laterais, mas igualmente em marmoreado fingido, tem mesa paralelepipédica adossada, com Sacrário dourado. A Senhora da Assunção apresenta-se em tribuna expositiva, sobre trono de escalonamento triplo. Quatro colunas lisas, com marcas douradas no fuste e capitéis de aproximação compósita, com acantos coríntios e volutas jónicas, enquadram os eixos laterais, com imagens do Sagrado Coração de Jesus e São José com o Menino, ‘cobertos’ por dossel de sanefas. O ático é decorado por elementos vegetalistas, volutas e concheados, com cimeiro Coração Eucarístico em cartela