Os valores da cidadania e a perceção da insegurança
O Observatório de Segurança e Defesa, da SEDES, num estudo cujo relatório é divulgado pelo Diário de Notícias, de 14.07.25, com título de 1.ª página “Criminalidade cai 1,3% mas capas de jornais com crimes aumentaram 130%”, conclui que “esta discrepância entre realidade e a forma como a comunicação social aborda o fenómeno poderá contribuir para a erosão da confiança nas instituições sem esquecer o papel das redes sociais”, como refere o diretor do jornal no seu editorial. Acrescenta ainda que é necessária cautela na análise dos dados do estudo e na conclusão pelo alegado “aumento da perceção de insegurança”, porque “a única certeza que podemos ter, à partida, é que nos últimos 25 anos, a imprensa passou a dar mais destaque, nas suas primeiras páginas, aos temas relacionados com a criminalidade” e que “os canais de notícias e as edições online das principais marcas de informação dedicam grande atenção a estes temas, o que constitui sinal inequívoco que os mesmos garantem audiências”.
No seu artigo sobre o mesmo estudo, na rúbrica “Em Foco”, inserido na pag. 8, a jornalista Valentina Marcelina reforça uma das conclusões: Além do aumento das menções a crimes há também uma maior persistência mediática dos casos. “Um crime ficava nas notícias dois ou três dias. Agora são mais de quatro”. Refere que este prolongamento da cobertura jornalística é impulsionado por intervenções públicas de políticos que usam o tema como instrumento da sua ação. Ora estes factos aumentam a perceção subjetiva da insegurança. A jornalista também referencia os fatores que o estudo identifica como sendo os principais a contribuir para essa situação: O contacto direto ou indireto com o crime, a forma como os crimes são noticiados e as respostas das instâncias formais de controlo, as polícias e o sistema judicial.
De acordo com um estudo do INE, 45% dos portugueses consideram que a segurança pública é uma das principais preocupações do seu dia-a-dia, até acima da saúde e da educação. Tal como o estudo da SEDES também conclui que a perceção da insegurança está a aumentar, apesar da estatística criminal mostrar uma diminuição nos anos mais recentes. Alguns fatores que contribuem para esta situação são: 1. A crise económica associada à imigração. Os baixos rendimentos que dificultam ou impedem o acesso a habitação condigna e a condições de vida e de bem-estar social; 2. A disseminação de informação/desinformação alarmante sobre crimes muito partilhada nas redes sociais que influencia negativamente, sobretudo a população mais jovem; 3. A falta de presença policial, visível e atuante, em áreas de maior conflitualidade social; 4. A incerteza e ansiedade sobre um futuro incerto e instável; 5. O esquecimento da primazia dos valores fundamentais, sob o sufoco dos interesses individuais e partidários, com exploração e manipulação sistemática da emoção básica que é o medo.
Como resposta positiva para uma cultura de segurança em liberdade, é necessário que todos os responsáveis adotem uma cultura de confiança nas instituições e credibilização dos seus profissionais, com uma abordagem multifacetada envolvendo instituições, comunidades e pessoas, promovendo a coesão social e a inclusão, com base nos valores da cidadania de direitos e deveres.