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Mercado não tem leis no Nordeste Transmontano

No segundo do curso de Comunicação Social da Universidade do Minho havia uma disciplina considerada um daqueles ‘cadeirões’, que tinha sempre mais alunos do que lugares disponíveis. Era introdução à economia.
Claro que essas aulas, com alguma componente de números à mistura, eram de digestão mais difícil para os alunos oriundos dos cursos de Humanidades do Secundário, em que se vencia a matemática por falta de comparência do adversário.
De qualquer forma, era nessas aulas de Introdução à Economia que se tratavam alguns dos princípios básicos dos mercados, como a Lei da Oferta e da Procura.
O postulado é simples. Quando a procura por um determinado produto é maior do que as unidades disponíveis desse produto, o preço tende a subir, pois as pessoas estão mais disponíveis a pagar para assegurar a sua parte desse bem ou serviço.
Em sentido contrário, quando um produto tem demasiada disponibilidade, maior do que a procura, o preço tende a descer, para gerar interesse em possíveis compradores.
Foi o que aconteceu com as máscaras faciais no início da pandemia. Os preços eram absurdos de tão caros, porque havia pouca disponibilidade para tanta procura. Quando as fábricas começaram a produzir em quantidades que satisfaziam a procura das pessoas, os preços baixaram e muito.
Esta é uma das leis básicas que regulam o mercado. Qualquer um.
Por outro lado, quando vamos às compras a um qualquer supermercado, pagamos o que nos é pedido por determinado produto. Não somos nós que chegamos à caixa, para pagar, e informamos o funcionário de quanto estamos dispostos a pagar pelo que levamos no carrinho de compras. “- Olhe, só vou pagar um euro por este robalo e dois euros por aquelas costeletas de carne mirandesa.” Este diálogo não acontece!
Mas há certas atividades que escapam às leis, nomeadamente à lei do bom senso, à lei da ética, do proporcional e do justo. Com a da castanha, por exemplo.
Em primeiro lugar, quem faz o preço é quem compra, não é quem vende.
Depois, em 2023, o ano foi especialmente mau em termos de condições climatéricas para os produtores de castanha, com os fungos instalados nos soutos a afetarem praticamente metade da produção. A qualidade do produto era má. Ainda assim, o valor pago pelo mercado ao produtor situou-se entre os 1,5 e os 2 euros.
Em 2024, S. Pedro compadeceu-se dos agricultores transmontanos e proporcionou as condições ideais para o vincamento do fruto. A qualidade da castanha é, este ano, excelente. A somar à excelente qualidade dá-se o caso de haver muito menos quantidade.
Portanto, de acordo com as leis do mercado, quando há menor oferta e a mesma (ou mais) procura, o preço tende a subir.
Se a isso se somar a excecional qualidade do atual ano agrícola, era de esperar uma subida dos preços pagos aos produtores.
Oh inocentes...
É que o mercado da castanha não conhece as mesmas leis. A lei que funciona é a de cinco grandes ajuntadores que exportam tudo para Itália e Brasil. À custa do agricultor transmontano. E não há leis que pare

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4010

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