A opinião de ...

DO ALTO DOS OITENTA E TAL ANOS – O regresso às origens

É do conhecimento de todos que Portugal é um país de diáspora. Por todas as partes do Globo passaram e vivem portugueses: muitos a quem a sorte grandemente bafejou, e também muitos para quem a sorte não foi tão generosa. Resulta daí que aqueles, tendo lutado com a força, a coragem e o ânimo que a este povo são inerentes, conseguiram ultrapassar as dificuldades que, num meio desconhecido, foram encontrar, ali se fixaram, criaram riqueza e deixaram descendentes a quem proporcionaram uma vida melhor do que aquela que suportaram na sua terra natal. Ao contrário, também outros se perderam em paragens consideradas pouco produtivas e acolhedoras (em nada contribuindo para que ali permanecessem felizes), a par de projetos alegadamente mal delineados ou projetos cujos objetivos não conseguiram alcançar, embora tenham lutado como os primeiros.
Se é verdade que os que prosperaram no estrangeiro se sentem realizados, também é verdade que, perante a adversidade, haverá centenas e até milhares que se propõem recomeçar o não bem trilhado caminho até poderem satisfazer a sua ambição.
Mas é quase certo que todos interiormente sentem um chamamento de regresso ao qual sentimento poderemos chamar saudade.
A saudade (palavra que dizem não ter correspondência em língua estrageira), poderei defini-la como um estado de espírito que alguém sente em relação a quanto deixou, mas que instintiva e decididamente pensa retomar, muito embora tal lhe seja muito difícil conseguir.
Raro será o emigrante português que, tendo ou não obtido um grande sucesso lá fora, não contribua para o progresso do país em que se encontra. Há descendentes de emigrantes portugueses que assumiram de tal maneira o convívio social e a oportunidade política que os pais lhes proporcionaram que vários deles ocupam lugares de responsabilidade, sobretudo no poder local.
Para que assim acontecesse, teve que haver da parte do país que os acolheu a preocupação de os identificar e proteger, além de assumir a responsabilidade de lhes proporcionar condições que os levaram a permanecer nesse país, onde puderam viver a sua vida sem sobressaltos.
Também estes, como creio, não deixam de pensar nas suas origens, e que um dia poderão vir a encontrar-se com elas.
Grave é o problema, no nosso e noutros países, dos que imigram clandestinamente, que vivem de expedientes, (sem emprego, sem habitação condigna e sem proteção social), que desconhecem a língua e os hábitos mínimos da população em que pretendem viver. E grande é a responsabilidade dos governos que têm de lidar com tais situações.
Pessoas como estas, teimam, entretanto, que preferem continuar a viver assim, em vez de retornar ao seu país de origem. Afinal, em que condições sociais viveram nesse país para que se oponham ao seu regresso?
Torna-se, pois, necessário e urgente arranjar maneira de as identificar, de lhes acudir, de não as maltratar, e acabar com espetáculos degradantes como os que aconteceram não há muito neste país, e que a televisão se encarregou de no-los fazer chegar às nossas casas.
Tal como as acima referidas, também estas poderão singrar na vida e virem a ser úteis ao país que as abrigou.
Assim, não se obrigue, seja quem for, a retornar ao seu país sem serem percorridos os passos necessários à sua integração.

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