A opinião de ...

Encomendar arte sacra para comunicar a fé pelos sentidos

Von Balthasar, um dos maiores teólogos do século XX, queixava-se que a religião protege e aprecia pouco a beleza, mas sem ela corre sérios riscos de não ser entendida pelos homens. A aparência desacredita a beleza. Se a beleza não for acompanhada da verdade e do bem, depressa arrasta consigo na sua misteriosa vingança, sublinha.
A Igreja, que sustentou inúmeros artistas, hoje limita-se a fazer encomendas pontuais [e raramente a artistas de primeiro plano]. Ao não adquirir obras de arte, compra o “pechisbeque”, o barato e, o sem gosto artístico e, deseduca. Por outro lado assiste-se a uma “renovada preocupação com a preservação de manifestações artísticas e patrimoniais nem sempre valorizada no passado”. Mas, por mais salutar que seja a atitude conservacionista não se pode esquecer que o artista tem necessidade de continuar a produzir arte. O artista ajuda-nos a despertar os sentidos, a interioridade e, a promover a esperança, que conduz a uma harmonia, que liga o homem à Beleza e ao Bem, como refere o Papa Francisco, que chama aos artistas os “guardiães da beleza no mundo”.
Assim, torna-se importante cultivar o gosto de ter arte em casa e nas Igrejas. Cada vez que olhamos para uma pintura, ou ouvimos uma música, permitimos que ela nos entre pela imaginação e, se é arte-sacra esta comunica-nos a fé pelos sentidos.
A história ensina-nos que a arte é impulsionadora da unidade e dinamizadora da comunidade. Nas lutas da Reforma Protestante a reação dos reformistas afirmou-se pela supressão das imagens dando supremacia à Palavra. Trocavam-se panfletos que difundiam informações contraditórias, vindos de diferentes fontes, muitas vezes carregados de insultos pessoais. Por seu turno a Contrarreforma Católica usou a estratégia do “artista pregador visual junto do público”, mobilizando todos os artistas. As grandes obras não só impressionaram santos como São Felipe Neri, que desmaiou ao contemplar o quadro da Visitação de Federico Fiori [5], como promoveram uma vasta catequese popular.
Também nós beneficiamos com esta saudável invasão Contrarreformista que espalhou arte por todo o território brigantino, dando trabalho aos muralistas de afrescos no século XVI e XVII. Joaquim Caetano, investigador, do Instituto de História de Arte de Lisboa, na sua mais recente publicação analisa 35 exemplares desta pintura de Miranda do Douro, a Alfândega da Fé e Torre de Moncorvo, não chegando aos outros 9 concelhos do distrito, mas dá para intuir das enormes campanhas de arte e de fé que se fizeram neste recanto nordestino.
Hoje a Igreja Católica inserida neste mundo plural onde predomina o abstrato, sem forma, nem conteúdos, onde cabem todas as narrativas, ou traduz a verdade e a bondade do ensino em belas e autênticas imagens artísticas, deste e para este tempo, ou perde força, ficando-se na abstração das palavras, comprometendo assim o anúncio de Jesus Cristo.
Encomendar arte sacra é contribuir para que ela nos entre pela imaginação e, nos comunique a fé pelos sentidos.

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