A opinião de ...

O desejo cristão pela Santa Missa

Chegou o momento tão aguardado por tantos de nós: podemos, finalmente, celebrar a Santa Missa em comunidade e no templo santo de Deus. Se há coisa que este tempo novo nos ensinou é que há muitas forças e muitas agendas com um espírito marcadamente anti-clerical. Espanta-me deveras ver a celebração da Fé (seja de qualquer credo que esteja presente no país) comparado com os festivais ou outro tipo de diversão. Mas a Fé é uma diversão, é um espetáculo, uma alegoria? Enquanto não manifestarmos com vigor e com coerência que a Fé é o bem mais essencial que todo e qualquer outro bem, seremos, caros irmãos, olhados e tratados como aportações inócuas da sociedade civil que a toda a força nos quer colocar à margem da decisão e à margem da educação e formação nos valores e princípios basilares que promovem a pessoa humana e defendem a natureza como a casa de todos.
Com sagacidade, o advogado Pedro de Castro afirma: “temos vindo a ser formados, ou formatados, de há umas gerações para cá através duma educação fraca e sentimental, sem qualquer exigência, que não desperta a curiosidade e muito menos a imaginação, muito pouco rigorosa e absolutamente tendenciosa. Vivemos com o medo do amanhã, sem qualquer esperança no futuro. Saltamos narcotizados de crise em crise, desesperados pelas contas por pagar e pelos impostos e regras que os fariseus que nos governam nos impõem a todo o instante”.
Com tantas necessidades que nos são impostas nós não temos tempo para pensar, para nos focarmos no essencial. Quando digo impostas quero com isso dizer que muitas delas nos são propostas-impostas por esta sociedade do consumo, do materialismo existencial e do nihilismo espiritual. Esta cultura dominante quer retirar Deus do centro da vida humana e da vida da sociedade. Voltamos ao início: a Fé é tratada como um mero espetáculo de entretenimento, que anestesia a razão e narcotiza a inteligência humana, que obstaculiza a fruição sem limite e sem regra, que ostraciza a liberalidade das emoções e dos desejos. Estes são os ditos homens do progresso e da nova ciência.
Henrique Raposo oportunamente afirma que “a ciência não é uma teologia fixa, é um método de pesquisa que vai acertando e falhando até chegar a uma tese altamente provável, que nunca é a verdade no sentido absoluto”. Na verdade, o único absoluto é Deus. Nós, os crentes, bem o sabemos. E porque temos Deus temos paternidade. Ter pai significa que somos gerados, que somos posteriores, somos filhos; e ser filho significa ser amado, desejado e cuidado; significa, pois, que não somos órfãos, que não estamos sós e abandonados, náufragos no mar imenso da dúvida e da solidão, do desespero e do desamor, do prazer desenfreado e do materialismo acumulador.
O Cardeal D. José Tolentino Mendonça reforça o apelo para a fraternidade exigida e necessária, para a atenção com a vulnerabilidade dos (mais) velhos “porque aí a solidão (...) é um eufemismo para ocultar a palavra abandono. Nós somos filhos, nós temos Pai e juntos formamos uma família unida pelo vínculo da fraternidade, uma comunidade viva, um povo que projecta o futuro na Esperança e na Fé.
(continua na proxima edição)

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