Diocese

“[Pandemia] reforça o papel do padre como pai espiritual e promotor de uma fraternidade aberta"

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2021-09-16 10:56

Se houve alguma coisa que a pandemia mostrou, foi que o padre tem uma “missão importantíssima”, a de “ser alguém que acende a luz da alma neste ambiente de desânimo e de falta de perspetivas”.

Quem o diz é D. Manuel Pelino, bispo emérito de Santarém, que orienta o retiro do clero da diocese de Bragança-Miranda, que hoje termina no seminário de S. José, em Bragança.

“A pandemia inspirou-me nos temas do retiro, que tem a ver com reconstruir e recomeçar. Relevo à Ressurreição como fundamento e a luz da nossa fé, que nos leva a ver sinais da Ressurreição no presente. O Papa, durante a crise da pandemia, chamou a nossa atenção, também, escrevendo mesmo o Plano para Ressuscitar. É uma calamidade que é, também, uma oportunidade de reconstruir a nossa vida, da sociedade e os nossos costumes.
É neste sentido que o retiro deve atualizar a esperança para o tempo de hoje, com sinais que nos desanimam, como igrejas vazias.
Ao mesmo tempo, ver o padre com uma missão importantíssima, de ser alguém que acende a luz da alma neste ambiente de desânimo e de falta de perspetivas.

Temos esta missão importante de acreditar no humanismo que vem da fé cristã e acender essa luz no coração de toda a gente”, disse ao Mensageiro.
O prelado lamenta, ainda, o vazio nas igrejas acentuado pela pandemia.

“Aquilo que se vê neste momento é que as pessoas habituaram-se a ver a missa na televisão, é mais cómoda, tem um conteúdo rico mas não é encontro. Para já trouxe um afastamento, que pode continuar. Mas as igrejas já se vinham esvaziando de há uns anos para cá. Igrejas, seminários, grandes superfícies religiosas estavam a ficar vazias. Isso leva-nos a ver que o cristianismo que temos se calhar também era um pouco exterior e vazio. É bom criar um cristianismo mais pessoal, na família, nas comunidades, e caminhar para uma sinodalidade. Não é apenas o clero que mantém a fé, são também os pais, pessoas da família, a comunidade. Esta sinodalidade é uma perspetiva importante”, frisou.

D. Manuel Pelino realça, ainda, o papel fundamento do sacerdote, sobretudo no meio rural.

“O exercício do ministério tem uma perspetiva nova que o Papa nos dá com a carta sobre S. José, Patres Cuorum, o coração de um pai. Hoje há um certo sentido de orfandade, sobretudo no mundo rural e o padre é essa concretização do pai, da sentinela que vigia. Aquele que está atento aos perigos e que vai à frente. É uma presença importante para as pessoas, alguém que está ali para servir. É uma luzinha que se mantém sempre acesa. Essa é uma missão importante, não só para os que deixaram de ir hoje em dia, mas para as pessoas em geral. Reforça o papel do padre como pai espiritual e promotor de uma fraternidade aberta.

Mesmo para os não crentes, é importante a presença do padre nas aldeias. Enquanto os mais qualificados abandonam, o padre é residente no meio onde trabalha.

É, também, um convite aos padres a terem consciência do papel importante que têm e a exercê-lo com gosto”, explicou D. Manuel Pelino que nota, entre os padres, “esta frustração de não poder lidar de perto com o povo na pandemia”. Por isso, deixa um apelo aos sacerdotes: “Têm de vencer esta crise e ser um farol de esperança”.

O bispo emérito de Santarém sublinhou, ainda, que estes retirou “são importantíssimos” na vida do clero.
“Este ano celebramos os 500 anos do santo que iniciou estes exercícios espirituais, Santo Inácio de Loyola, uma referência importante. Para uma experiência espiritual de fé, os retiros são importantes e imprescindíveis para quem quiser renovar a fama da fé e da esperança”, concluiu.

Assinaturas MDB