Agricultura

Regresso à terra pode ser muito difícil alertam os mais velhos

Publicado por Ana Preto em Qui, 2013-07-04 11:12

 
Numa altura em que há ainda muitos jovens entusiasmados com projetos agrícolas, há quem alerte para o facto de outros, por falta de dinheiro, já terem abandonado a atividade.
Não é propriamente a falta de experiência dos jovens agricultores o que preocupa Mário Pereira, presidente da Federação de Agricultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (FATA), mas a falta de capital para se manterem numa atividade que, por si própria, tem muito pouco de rentável. Citando ou outro agricultor mais velho, Mário Pereira diz-nos que a “agricultura é uma forma simpática de empobrecer alegremente”. Sobram-lhe exemplos de jovens que se instalaram e tiveram de “encerrar portas ao fim de cinco anos e emigrar para pagar as dívidas”.
Será a parte do “alegremente”, de uma vida mais calma, afastada da pressão constante de um trabalho numa cidade o que fez com que Fátima Brás e o marido, duas pessoas que sempre viveram na cidade e têm aí um emprego, tenham pensado em investir na agricultura. Fátima é advogada e está a pensar deixar tudo para viver e trabalhar em Serapicos, Vimioso, a aldeia dos avós e de onde os pais emigraram para o Brasil, à procura de uma vida melhor, longe do campo. Viveu no Brasil até aos 16 anos e agora trabalha no litoral. 
Neste momento tem já uma plantação de castanheiros com 3,5 hectares, que deverão começar a produzir daqui a oito, 10 anos. Agora, ela e o marido, com raízes em Izeda mas sem qualquer ligação via familiar à agricultura, estão à espera que abra o próximo Quadro Comunitário de Apoio para entrar com um projeto apícola, para cerca de 300 colmeias, complementado com uma pequena exploração de cogumelos. Em princípio contam dedicar-se à produção de mel, de castanha e de cogumelos e fazer disso o seu modo de vida.
Preparada, Fátima fez um curso de formação em produção de ervas aromáticas e um outro em apicultura. Estudando as características naturais da região onde pretende investir, resolveu dedicar-se à apicultura. Algumas das terras que vai usar pertenceram aos avós. “São pequenas leiras”, referiu.Outras, como aquela onde tem a plantação de castanheiros, teve de as comprar.
Largar o emprego e instalar-se definitivamente com a família na região para fazer agricultura é o próximo passo, já programado para logo que tenha de instalar o projeto apícola. Conta, “nos primeiros tempos, fazer uma vida mais modesta” e gastar as poupanças que tem. É um passo corajoso, que demonstrará já um pouco de um vício de que Mário Pereira fala.
“Um escritório agrícola custa muito dinheiro, mas a agricultura é como uma droga, é um vício que custa muito a sustentar”, adianta.
Quando ouve falar deste novo interesse pela terra, “que nunca deu dinheiro”, tem as suas dúvidas. Não é que não acredite na agricultura, nem na formação dos mais novos. Dúvida é da capacidade destes resistirem quando faltar o dinheiro. A região, diz-nos, é uma das regiões agrícolas mais pobres do mundo e foi precisamente a falta de rentabilidade destes campos que levou a que as aldeias ficassem sem gente nova. Dá o exemplo do grande número de lugares na Terra Fria onde existiam explorações agropecuárias. Agora, contaram-se pelos dedos as aldeias onde ainda há gado bovino ou de outra espécie. Além disso, refere, uma coisa é ser agricultor de fim de semana, ter umas oliveiras ou uns castanheiros, e outra é ter uma casa agrícola, com todas as suas componentes, incluindo as explorações pecuárias.
 

 

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