Entrevista a Nuno Moreira - CDS

“Tenho profunda convicção de que vamos eleger um deputado”

Publicado por António G. Rodrigues em Sex, 2019-10-04 14:28

Mensageiro de Bragança: Porque aceitou ser candidato aqui pelo distrito?

Nuno Moreira: Aceitei o desafio que me foi colocado pela presidente do partido em abril porque o distrito de Bragança sempre teve muito a ver com a minha própria história, com a história do meu pai, que nasceu aqui. Enquanto os meus avós foram vivos vínhamos a Grijó passar férias. Vinha muitas vezes a Bragança e acompanhei de perto todo o processo da cedência do espólio do meu pai à biblioteca Adriano Moreira.

Eu já fazia parte do partido. Nas conversas com os nossos amigos e dirigentes, ia dizendo que fazia sentido para mim ser candidato por Bragança. Há um conjunto de fatores que levaram a que a Assunção conjugasse uma vontade já expressa e pensasse que seria um bom momento. É uma homenagem aos nossos antepassados.

 

MDB.: Que desafios encontra aqui, num distrito que não conhece a fundo?

NM.: Agora conheço melhor do que muita gente. Em campanha temos feito uma média de 300 a 400 quilómetros por dia. Não há nenhum concelho que não visitámos. Temos feito um trabalho em conjunto com as estruturas locais. É evidente que há um problema que já detetei. Em estudos feitos por especialistas do Instituto Politécnico de Bragança, por exemplo no índice de qualidade de vida, reparei que são valores positivos, com 50, 60 por cento de crescimento em vários itens. Mas quando chegamos às eleições, todos dizem que o Interior tem um grave problema, que é o despovoamento e a fraca natalidade.

Há anos que o CDS trouxe para a mesa política o relatório ‘Natalidade, um desafio português’. Sem pessoas não se consegue resolver o resto. Sem políticas dirigidas aos mais novos que se querem manter por aqui, não há maneira de combater um problema que se mantém.

Esses índices são bons mas esse desenvolvimento não diminuiu o problema que se mantém.

O CDS foi o primeiro a trazer isso para a política. Nesta legislatura fez um pacote legislativo de apoio à família e à natalidade, com 35 medidas, que foram todas chumbadas pelas esquerdas unidas. E essas são as políticas que são necessárias para a inversão da população.

Temos medidas muito concretas para o apoio às famílias, mesmo para o distrito. Por exemplo, um apoio de 250 euros durante os 12 anos de escolaridade para os casais jovens.

Queremos um benefício de estatuto fiscal para o Interior. Este problema passa pela fiscalidade. Queremos a redução do IRS para todos para metade; uma redução de dez por cento de IRC para as empresas; que os gastos com transportes entrem nas despesas dedutíveis e apoios ao investimento com majorações para as empresas.

Fomos os primeiros a olhar para a natalidade e este é que é o problema.

 

MDB.: Esse estudo foi feito há 15 anos mas há quatro o CDS fez parte do Governo. Porque é que essas medidas não foram implementadas na altura?

NM.: Vivíamos num período de grandes dificuldades, em que devido à bancarrota socialista, tínhamos perdido a nossa soberania e o nosso poder de decisão. Quando se olha para esse período, o papel que o CDS teve junto do Governo foi fundamental em muitas áreas. Por exemplo, estava projetado um corte nas pensões mínimas e nas de sobrevivência. Se não fossem os centristas em coligação, isso teria acontecido. Isso depois tem reflexo na família e no resto.

Em relação ao distrito, temos grandes exemplos que, em períodos de dificuldade, a Assunção Cristas enquanto ministra da agricultura executou os fundos de coesão a cem por cento.

Neste momento, a execução não chega aos 30 por cento. Não se pode dizer que se preocupam com o interior e centrar a ação política apenas em Bragança, Macedo e Mirandela.

O setor da agricultura teve um sinal muito positivo com Assunção Cristas. Em Alfândega da Fé temos uma placa num investimento feito em regadio, num período de austeridade.

Não percebemos é como um Governo afirma que se virou a página da austeridade. Em Freixo de Espada à Cinta, os projetos de Jovem Agricultor demoram 24 meses. Existem quatro projetos há dois anos à espera.

 

MDB.: Depois das visitas aos vários concelhos, que diagnóstico traça do distrito?

NM.: Tem necessidade de uma política dirigida à natalidade e à família. Em segundo lugar, tudo passa pela educação. Estamos ao lado do IPB, que dá um exemplo nacional e internacional. Faremos os acordos políticos necessários para o passo decisivo para resolver a questão dos doutoramentos, de forma a poderem ter o seu quadro de investigação.

Neste ponto, é importante os autarcas locais apoiarem a relação do IPB com as empresas.

Em relação à agricultura, defendemos que não se podem deixar os projetos chegarem a esta situação de demorarem vários anos a serem concretizados. Na altura da Assunção Cristas, os subsídios eram dados em duas alturas do ano e agora são pagos apenas no final do ano.

Portanto, apoio à família e natalidade, o politécnico e o apoio aos agricultores e às empresas.

E tem de se tentar uma maior distribuição do que trazemos para o distrito também pelos concelhos mais limítrofes. Bragança, Macedo e Mirandela não podem sugar tudo.

Tem de se olhar para estes quatro pontos, passando, também, pela fiscalidade.

 

MDB.: Temos três áreas protegidas que abrangem a maior parte do território. Entende que deveria haver alterações na forma como são geridas?

NM.: Uma das primeiras coisas que gostaria de deixar é um agradecimento aos nossos antepassados, que deixaram este legado. Se temos este território, deve-se à relação equilibrada e inteligente na intervenção do homem nestas áreas protegidas.

A formo como estas áreas estão a ser geridas traz, muitas vezes, problemas às populações.

Estive num lanche em Rio de Onor, em que as pessoas diziam que é bom fazer parte de um parque natural mas, por outro lado, há certas coisas que os impedem de ter a sua horta. Aparecem os veados, que não se podem matar, e comem tudo. Os lobos, também. Há toda uma série de biodiversidade que é protegida por leis, mas traz algumas desvantagens.

Por exemplo, o rio era limpo, no tempo das nossas avós, de umas plantas infestantes. Agora não se pode limpar e aquilo oxida a água, o que faz com que não haja peixes. É preciso ver o que é que as pessoas que se relacionavam com o território nos podem ensinar.

Tem de se fazer uma revisão. E há muitos organismos que tratam do território mas têm de se aproximar de quem lá mora.

 

MDB.: Qual é o objetivo em termos eleitorais?

NM.: Tenho profunda convicção de que vamos eleger um deputado porque faz falta ao distrito uma representação do CDS. É um partido com 45 anos de história, que sempre teve o interior, os agricultores, os empresários. Este é um distrito do mérito. E, portanto, precisa da representação do CDS, porque temos a capacidade de olhar a sociedade como um todo.

Todos fazemos falta. Esse seria o objetivo que nos daria uma grande alegria.

Outro objetivo é ter um resultado muito bom, histórico. É um trabalho para continuar. O nosso compromisso não é só com esta candidatura. Temos projetado muito trabalho e ambição para o distrito. Mesmo não tendo tido eleitos nas últimas eleições, os nossos representantes fizeram diversas recomendações ao Governo pelo distrito. Uma alternativa de Direita e Democrata Cristã é o que o distrito precisa.

 

MDB.: Será possível atingir esse objetivo?

NM.: Quem me elege são as pessoas, não é o partido. Há partidos que consideram que só eles têm capacidade de se elegerem. Mas esqueceram-se que quem os elege são as pessoas, não são os partidos. Quando há trabalho, há resultados.

 

MDB.: Que outras propostas tem para o distrito?

NM.: Para além do abono a quem tiver filhos, sabemos que há muitos estudantes que têm de custear os seus estudos com trabalho. Não achamos justo que sejam tributados por isso. Defenderemos que o dinheiro resultante do trabalho dos estudantes não seja tributado.

A redução do IRS para metade. Outro ponto é fazer a revisão dos Núcleos de Unidades Territoriais, os NUTTS. Isso tem de ser revisto. Não faz sentido Bragança estar ao lado do Porto. São realidades completamente diferentes e não devemos ser prejudicados por isso.

Também é importante efetivar-se uma descentralização, mas somos contra uma regionalização, que é a multiplicação de cargos políticos, que aumenta a despesa e os impostos.

 

MDB.: Bragança já teve o dobro dos órgãos de comunicação que tem atualmente. Como vê esta questão?

NM.: É um assunto a estudar. Se quem está preocupado com o Interior não reage a isto, é extraordinário. Não vi nenhum outro candidato referir-se a isto. É evidente que a comunicação social tem um papel muito importante e aqui no Interior o esforço é maior. Tem de ser feito um estudo, valorizar e aumentar os apoios à comunicação social, que é importantíssima para a informação das pessoas. O Presidente da República falou bem e estou ao lado dele.

Assinaturas MDB