A opinião de ...

Zero – o único número aceitável de vítimas mortais

“Construirei um automóvel para toda a gente, com um preço tão baixo que qualquer homem com salário possa ter. Ele e a sua mulher bendirão a Deus por lhes ter dado acesso, com alegria, aos grandes espaços verdes”. Citação: Henri Ford, 1929

O termo acidente é amplamente utilizado na linguagem popular. Teoricamente define-se como acontecimento fortuito, evitável e imprevisto, porém previsível. Na definição do Dicionário da Língua Portuguesa, acidente é um “acontecimento repentino, fortuito e desagradável”. Para alguns investigadores é um acontecimento fortuito e eventual, que altera a ordem das coisas e que origina danos involuntários nas pessoas e nos bens.
Nada do que sucede ao Homem se deve só ao azar. Mesmo os factos mais incompreensíveis obedecem a uma causa, ainda que permaneça oculta na nossa compreensão. Ao acidente sempre esteve ligada a imagem do azar, de geração espontânea e imprevisão implícitas nas definições apresentadas. Estas crenças predominaram na sociedade ao longo de uma boa parte do século XX, mas atualmente seria irreal acreditar que é o destino, a má sorte ou apenas o acaso que estão na origem dos acidentes e, como tal, estes estariam fora do nosso controlo e nada havia a fazer para os evitar. Investigadores de diferentes áreas concluíram que os acidentes que ocorrem em todas as atividades humanas não são, em absoluto, acontecimentos fortuitos, inevitáveis, impredizíveis e dependentes da sorte. Na grande maioria dos casos seguem parâmetros característicos de distribuição, isto é, o acidente globalmente, é consequência de uma falha humana, evitável e, de certa forma, predizível.
Para qualificar os acidentes usam-se terminologias próprias que os tipificam. Assim, entre outros, temos acidentes de trabalho, aéreos, médicos, urbanos, agrícolas, industriais, etc. O nosso objeto são os acidentes rodoviários, considerando estes como aqueles que ocorrem nas vias de circulação pública, como consequência do trânsito de veículos e pessoas, envolvendo pelo menos um veículo em movimento, sendo do conhecimento das entidades policiais e de que resultam vítimas e/ou danos materiais.
A enorme mobilidade que o uso massivo do automóvel proporciona, potenciada pelas ligações rodoviárias cada vez melhores e em associação com outros tipos de transporte, trouxe-nos mais liberdade, auto-realização e contribui para o nosso bem-estar e felicidade. Porém, tem contrapartidas. O grande aumento da poluição atmosférica e do aquecimento global por via do efeito de estufa, o aumento do consumo de combustíveis, os grandes congestionamentos de trânsito nas grandes áreas metropolitanas, a poluição sonora e sobretudo o elevado número de acidentes e as suas consequências materiais e pessoais. Os acidentes rodoviários constituem um problema grave a vários níveis: saúde pública, económico, social e de segurança. O exercício da condução automóvel é sempre uma actividade complexa e sujeita a múltiplas condicionantes. Comporta um risco como fator de vulnerabilidade. Ora o risco possui uma dimensão positiva de desafio e motivação e outra negativa relativa ao perigo consequente. Através da educação, enquanto crianças e jovens, da formação contínua para a cidadania, enquanto adultos, do conhecimento e da avaliação, temos que estar preparados para reconhecer e evitar o risco desnecessário e praticar uma condução segura.

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