A opinião de ...

João XXI (Pedro Hispano) - o Papa Português

(continuação da edição anterior)
A sua vida, como era de esperar, não foi fácil. Para além de uma discutível obra escrita, vamo-nos centrar na sua vida como papa: “Antes de mais, o pontificado de João XXI surge como o corolário de uma longa carreira eclesiástica, iniciada com a investidura em ordens menores e mascada por uma subida, degrau a degrau, da escada do sacerdócio. No geral, tratou-se de um percurso diversificado, ascensional e bem estruturado, que o preparou com grande eficácia para a carreira bem-sucedida que desenvolveu junto da Cúria Romana, primeiro como cardeal-bispo de Túsculo, depois como sumo pontífice”. “Da maior importância para uma avaliação do seu pontificado foi, no entanto, a apreciação dos seus atos apostólicos, que foram fixados nas bulas que mandou exarar e nos sumários dos registos apostólicos. Foi essa atuação que permitiu, mesmo que com uma profundidade de campo variável, ter uma percepção relativamente firme da concepção de Pedro Hispano acerca do papel que atribuía ao bispo de Roma e à posição da Igreja no concerto internacional de poderes de final do século XIII. Nesse sentido, a avaliação de algumas das medidas tomadas no decurso do seu curto papado foi útil para perceber a sua visão do mundo, no contexto específico da sua época. Isso transparece, por exemplo, em determinadas matérias eclesiásticas relevantes, como a superioridade que advogava de Pedro entre os apóstolos, ou o interesse manifestado em retomar o projeto de cruzada contra o inimigo da fé, numa defesa inequívoca da santidade da guerra”. Outro aspecto muito importante foi tentar reunificar as Igrejas de Roma, no Ocidente, com a Igreja de Constantinopla, no Oriente. Ou seja: “o cisma da Igreja do Oriente, que resultara da divisão das duas Igrejas, em 1054, fora o corolário de um processo progressivo de afastamento mútuo, gradualmente materializado numa efetiva separação ritual, doutrinária e política, tornada entretanto histórica, devido à ação de Miguel Cerulário, patriarca de Bizâncio. Os antecedentes que redundaram no grande cisma, nalguns casos, eram muito longínquos, remontando ao século IV e à ação do imperador Constantino, quando elevou Constantinopla a principal cidade do império, retirando dessa forma a primazia a Roma, que sempre dispusera de um marcado ascendente sobre os patriarcados de Constantinopla, Jerusalém, Alexandria e Antioquia. Eram essas as quatro dioceses mais importantes da Cristandade, de acordo com a organização perfilhada pelo concílio de Niceia, realizado em 325.”. Ainda do ponto de vista teológico: “o credo romano era também contestado desde há muito tempo no Oriente, com base na discussão teológica em torno do dogma do «filioque», relacionado com a forma de manifestação do Espírito Santo. Os católicos romanos percebiam o Espírito Santo como uma emanação de Deus Pai e de Deus Filho, isto é, Cristo, ao passo que os bizantinos acreditavam que a origem da sua manifestação era apenas o Deus Pai, tal como havia sido decretado na assembleia de Niceia”. A unificação entre as duas Igrejas, acabou por não se confirmar, mais por razões políticas do que por razões teológicas.
No que respeita à liturgia e ao culto, também havia práticas, também muito distintas entre estas duas Igrejas, assim: “Por exemplo os bizantinos autorizavam o casamento dos seus sacerdotes, algo que o catolicismo romano negava aos seus clérigos, sustentado numa ideia de pureza ritual que entendia ser necessário observar”.
(continua na próxima edição)

Edição
4006

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