A opinião de ...

Bem ‘mou finto’! (1)

À medida que nos vamos afastando do 25 de Abril de 1974 mais vai aumentando a dificuldade em entender a sociedade que somos.
Os pilares desta sociedade vão-se degradando e não há maneira de serem restaurados e preservados.
A educação está como vemos e sabemos ao ponto de, com jeitinho, vermos reformar professores sem nunca terem dado aulas.
A formação moral, ética e cívica desapareceu da convivência entre as pessoas.
Hoje temos licenciados incultos, ignorantes e mal preparados e achamos que isto é “consequência dos tempos que vivemos”.
Hoje olhamos os políticos e governantes com desdém, com desprezo e sem qualquer respeito pela dignidade do Estado.
Hoje os símbolos do Estado não se mostram, não se ensinam e não se respeitam. Por isso só podíamos ter uma sociedade tipo baralho de cartas.
As cartas dos valores, dos princípios e da ética são muito poucas. As cartas dos “patos bravos” essas são muitas e, como tal, olhamos para elas com suspeição, com desconfiança e com muito cuidado.
Mas tudo isto nasce na sociedade. Nasce no povo. É com este baralho que o povo joga as cartas..
Ninguém vem de Marte pior do que era antes de ir.
Tudo isto é resultado do povo que somos. E de mais nada.
Têmos vergonha das raízes;
Têmos vergonha da família;
Têmos vergonha de quem somos
Têmos inveja de quem tem mais do que nós;
Têmos inveja de quem vive melhor do que nós;
Têmos inveja de quem tem aquilo que nós não temos mas que gostaríamos de ter;
Querêmos ser mais do que são os outros;
Querêmos que os outros nos bajulem para mostrar que somos os maiores;
Querêmos que os outros nos considerem o “centro do mundo” à volta do qual todos devem girar.
Querêmos que os outros pensem que tocamos piano, mas não querêmos que saibam que não sabemos falar francês
Querêmos que os outros saibam que somos capazes de tocar rabecão, mas não queremos que saibam que nem temos jeito para ser sapateiros.
Ficamos todos contentes porque os nossos filhos passam de ano, mas não nos importa saber se eles sabem. E não nos escandalizamos quando sabemos que há (houve) quem tivesse entrado no ensino superior com notas negativas.
E depois admiramo-nos quando vêmos ou sabemos que houve diplomas ou canudos de cursos superiores passados a um domingo.
Hoje não é importante saber quem somos, mas sim o que temos e aonde.
Se o que temos é numa aldeia olham-nos de esguelha. Mas se é na cidade – ah- tem de ser de outra maneira, mesmo que não tenhamos aonde “cair mortos”
É este povo que exige políticos, dirigentes e governantes sérios, dignos e impolutos e que, pela calada da noite se “entretêm” a mudar “marcos” ou marcar propriedades cujos donos são outros.
É este povo que depois vai p’ro café gabar-se dos muitos ha(s) seus que, afinal, nem os herdou nem os comprou.
Pois é.
Mas queremos que o Estado e quem nos governa sejam pessoas de bem.
Bem mou finto

Edição
3942

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