A opinião de ...

Vale da Abelheira (II)

Continuação da edição anterior

Tantos milhões mal gastos para pagar favores e cunhas e ninguém foi capaz de se lembrar que aqui também é Portugal e que, aqui, também há portugueses.
Tantos milhões estourados em obras de questionável necessidade;
Tantos milhões enterrados na sede do concelho – Vinhais – de duvidosa necessidade;
Tantos milhões derretidos na capital do Distrito de duvidosa utilidade e tantos milhões desbaratados neste país em beneficio de minorias poderosas e abastadas.
Em 50 anos não houve uns (tostões) para asfaltar uma estrada que ligasse esta aldeia à sede da Freguesia e à outra aldeia – Falgueiras – aonde passa uma estrada nacional.
Quem tem dignidade
Quem tem respeito pelos outros e por si próprio
Quem tem valores
Não pode deixar de ficar revoltado e indignado com o abandono a que são votadas tantas populações, no nosso país.
Dizem-nos que é preciso comemorar os 50 anos de 25 d’ Abril de 74.
Eu também acho que devem ser comemorados.
Dizem-nos que o 25 de Abril nos libertou da ditadura e da tirania. Aqui já tenho algumas dúvidas.
Dizem-nos que com o 25 d’ Abril passamos todos a ser iguais perante a lei. Aqui, tenho de dizer não é verdade.
Dizem-nos que, 50 anos depois, o país já não é o que era em 1974. Aqui tenho de dizer que Vale da Abelheira não é um «pueblo» da Galicia ou de Espanha mas sim uma aldeia de Portugal.
Dizem-nos que não é possível comparar o país de hoje, com o de 1974 e eu respondo, perguntando, o que é que mudou em Vale da Abelheira?
Aqui encontrei pessoas alegres e felizes, simpáticas e acolhedoras.
50 anos depois encontrei pessoas assim. Cerca de 30 pessoas. Entre estas algumas emigradas em França. Outras residentes noutras partes do pais, mas todas quiseram estar naquele dia. E porquê?
Porque nesse dia, o Bispo da Diocese de Bragança-Miranda ia visita-los na visita pastoral.
As pessoas estavam emocionadas. Ao ponto de contagiarem as restantes.
Na sala de uma casa simples e humilde – como são as casas das aldeias – o Bispo da Dioceses celebrou missa. Entre os presentes estavam 8 crianças. E, no final da missa o senhor Bispo quis ser ele a benzer as casas. No final da visita pascal os emigrantes presentes regressavam a França para continuar as suas vidas.
50 anos depois d’ Abril de 74 eis o contraste.
50 anos depois d’ Abril de 74 eis a diferença.
Uma Igreja que não é de modas e não abandona as pessoas. Sejam crentes ou não.
Uma Igreja que sabe que tem se estar, mesmo que os que estão, sejam poucos.
Uma Igreja que não abandona ninguém. Estejam aonde estiverem. Sejam os que forem.
Uma Igreja, humilde, que mandou o Bispo da Diocese visitar aquelas pessoas. Para dizer a estas pessoas não tenhais medo porque a Igreja nunca vos abandona, não estejais tristes porque a Igreja nunca vos abandona.
O Bispo da Diocese deu, assim, o exemplo de humildade. Não de humildade vaidosa e espampanante, como vimos noutros tempos. Mas sendo o mais importante de todos os que estavam ali, não se exibiu, vaidosamente humilde, perante as circunstâncias e perante todos.
Que grande lição aos importantes, aos políticos e aos governantes, deu este Bispo que ficará na memória de todos os presentes. Que Deus lhe pague

Edição
4006

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