A opinião de ...

Resposta a um jornal

Na sua penúltima edição, o «Jornal Nordeste» publicou o seguinte texto: “Mercador – Há um padre na diocese de Bragança que aproveita as missas para vestir a pele de promotor de vendas. Oh senhor padre, olhe que os fiéis ainda se lembram que Cristo expulsou os mercadores do templo … Então não lhe ensinaram isso em Roma?!”
Este texto merece-me as seguintes considerações:
1 - Como também os nossos leitores sabem, ainda não há muito tempo o mesmo jornal criticou o bispo de Bragança por causa do automóvel ao seu serviço. Na altura pareceu-me logo que a razão das críticas do «jornal Nordeste» não era o carro do sr. bispo, mas o jornal da diocese, que o sr. bispo redinamizou através da nomeação de uma nova direcção que, nesta hora de crise para toda a economia do país, tem sido capaz de levar a cabo uma obra de reajustamento financeiro e de relançamento redactorial, a ponto de o «Mensageiro de Bragança» se colocar na vanguarda da informação em geral, e da informação desportiva, política e religiosa, em especial.
E se alguma dúvida houvesse quanto às intenções «mercantilistas» da crítica do «Nordeste» ao bispo de Bragança, elas esfumaram-se por completo com o último texto citado em epígrafe. Por isso, vamos analisá-lo, fria e objectivamente.
2 – Antes de mais, convém dizer que não considero ninguém imune à crítica, pelo que também o bispo da diocese e o director do «Mensageiro» são susceptíveis de crítica. No entanto, esta tem de respeitar 3 condições para ter justificação, ou seja, deve ser feita de forma adequada, deve ser fundamentada e deve ter como objectivo o bem comum e não interesses particulares.
Ora, no caso em apreço, a crítica do «Nordeste» nem foi feita de forma adequada, nem é fundamentada, nem visa o bem comum.

2.1 – Em primeiro lugar, não foi feita de forma adequada, porque não identifica o alvo concreto das suas críticas. Ao falar num «padre da diocese» pode estar a referir-se a qualquer padre da diocese de Bragança, e isso é o mesmo que querer deitar uma lata de tinta ou de lama sobre uma pessoa, e aguardar que esta se meta no meio duma multidão para o fazer. É certo e sabido que, numa situação destas, irão ser atingidos todos os que estiverem à volta do alvo e muitos mais.
Aliás, ainda num passado recente, o próprio «Nordeste» criticou o «Mensageiro» por ter feito uma crítica a um professor do IPB, sem referir o seu nome. Ou seja, o «Nordeste» usa uma moral e uma deontologia para si, e outra para os concorrentes.

2.2 – Em segundo lugar, trata-se de uma crítica não fundamentada, pelas razões que passo a expor. No texto do Evangelho em que Cristo expulsa os vendilhões do templo, estes encontravam-se a vender produtos de propriedade particular que visavam gerar receitas e proveitos particulares.
Ora, a recolha de assinaturas para o «Mensageiro» não se pode comparar com o negócio dos mercadores do templo, não só pelo modo como também pelos fins.
Efectivamente, a Igreja Católica tem templos, tem seminários, tem conventos, tem hospitais, tem escolas, tem creches, tem centros de dia e lares de idosos, e tem instituições de apoio aos menos favorecidos, através das quais promove uma acção social de apoio que nem o Estado, nem nenhuma outra instituição pública ou privada são capazes de fazer da mesma forma abnegada e desinteressada. Eu sou a prova disso mesmo porque estudei 10 anos num seminário sem custos para os meus pais. Como eu, muitos outros, seja em seminários, seja noutras instituições.
Por outro lado, numa época que é caracterizada por alguns estudiosos como sendo a época da comunicação, a Igreja não podia virar as costas a esse instrumento importantíssimo de divulgação e promoção dos seus ideais e dos seus valores. Por isso, a maior parte das dioceses de Portugal possui pelo menos um órgão de comunicação social.
Para suportar os custos de toda esta actividade de apoio religioso e social, a Igreja promove frequentemente, entre os fiéis, a recolha de fundos. Isso acontece quer através das comissões fabriqueiras, quer através de outras comissões específicas, quer directamente através dos párocos, no fim das missas. É assim que, em parte, se financiam as Festas Populares que as paróquias organizam em honra do seu santo padroeiro, é assim que se financiam outras actividades e se recolhem outros fundos, como sejam as colectas para as Missões, para as Obras Sociais, para os seminários, etc., etc. E é neste quadro que se insere a campanha de recolha de assinaturas para o «Mensageiro de Bragança».
Ora, em nenhum destes casos se procura obter receitas que favoreçam pessoas ou fins particulares. No caso do «Mensageiro, nem o sr. bispo, nem o director, nem o administrador recebem um cêntimo pelo seu trabalho.
Consequentemente, em nenhum destes casos se pode falar em mercadores do templo, tratando-se, por isso, de uma crítica não fundamentada.

2.3 – Em terceiro lugar, trata-se de uma crítica que não visa o bem comum. Na verdade o que preocupa o director do «Nordeste» não é o Evangelho, nem os seus valores, nem tão pouco qualquer interesse da sociedade em geral ou de algum grupo social em particular. O que o preocupa verdadeiramente é o sucesso do seu concorrente. Por outras palavras, o que preocupa o director do «Nordeste» são os seus interesses materiais e financeiros, e nunca os valores do Evangelho ou do bem comum.

3 – Concluindo, direi que o director do «Nordeste», que se mostra tão preocupado em formular exigências éticas aos outros, não deveria descuidar as suas próprias obrigações éticas e legais. Se andar esquecido e quiser que eu lhe recorde alguns episódios do seu currículo neste capítulo, fá-lo-ei de bom grado numa das próximas edições.
Por outro lado, uma vez que se mostra também tão sabedor dos livros sagrados, não deve ignorar aquela passagem do Evangelho que diz o seguinte: «… com a medida com que medirdes, assim sereis medidos. Porque reparas no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Como ousas dizer ao teu irmão: deixa-me tirar o argueiro do teu olho, tendo uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás para tirar o argueiro do olho do teu irmão».

Edição
3425

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