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Chegou a Senhora da Serra, foi-se o verão

O início de setembro é marcado, no Nordeste Transmontano, pela romaria à serra da Nogueira, ao santuário de Nossa Senhora da Serra.

A novena, que termina precisamente amanhã, dia 08, marca, para os agricultores, o final do verão.

É por esta altura que caem as primeiras chuvas e é a partir de agora que os dias encolhem o suficiente para não se permitirem uma pequena sesta.

Findo o bulício de verão nas aldeias do Nordeste Transmontano, apanhado que está o feno e feita que está a segada, os emigrantes que por esta altura trazem vida à região também já se encontram de regresso aos trabalhos por esse mundo fora.

Por cá, os que ficam, voltam a preocupar-se com a política local e os putativos candidatos às eleições que se avizinham (sejam elas europeias ou, mais à frente, autárquicas), com a saúde, e economia. A inflação volta a ficar na ordem do dia, assim como a subida dos preços dos combustíveis e dos juros pagos aos bancos.

Temas que voltam a ganhar importância no léxico diário, de tal forma que até o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, veio alertar os agentes que nos governam (Governo, oposição e Presidente da República) acerca da importância de ter em atenção a trajetória de diminuição de dívida pública, sob pena de a economia portuguesa voltar a derrapar.

Um conselho que se estende às famílias, com orçamentos cada vez mais apertados devido ao esticar da corda dos juros dos empréstimos à habitação, das rendas ou dos quartos para estudantes.

De acordo com uma notícia do jornal Público de terça-feira, quase cinco por cento das famílias correm o risco de chegar ao final deste ano a ter de desembolsar mais de metade do seu rendimento disponível para suportar os custos com o empréstimo, em resultado da subida das taxas de juro. Ao todo, serão perto de 70 mil famílias nessa situação, praticamente o dobro daquilo que se verificava há dois anos, segundo as estimativas do Banco de Portugal (BdP).

Já em maio, o BdP antecipava que no final deste ano, com o crédito à habitação, as famílias teriam de desembolsar, em média, mais de um quinto do rendimento disponível para pagar a prestação da casa. Segundo estimava ainda o BdP nessa altura, a larga maioria das famílias (cerca de 75 por cento) deveria continuar a suportar uma taxa de esforço igual ou inferior a 30 por cento este ano, mas 18,6 por cento das famílias passariam a suportar uma taxa de esforço superior a 40 por cento no final deste ano (muito acima da proporção de 7,7 por cento das famílias que se encontravam nessa situação em junho do ano passado).

Numa altura em que se discutem as políticas de habitação, era altura de pensar no país que queremos ter no futuro. É que enquanto a riqueza produzida for para pagar créditos, nem se investe nem se poupa.

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