A opinião de ...

A falácia do ambiente

A recente visita do Ministro da Economia, António Costa Silva, ao distrito de Bragança, permitiu ao Mensageiro de Bragança questionar este membro do Governo sobre o propalado aumento do preço do Imposto Único de Circulação (IUC).

A justificação é a “necessidade de descarbonizar a economia”, até fruto de um compromisso com a Comissão Europeia.

Ora, isso até faria sentido se, de facto, a eletricidade fosse uma energia “verde” (amiga do ambiente), sobretudo em termos de mobilidade.

Mas a verdade é que os automóveis elétricos, cuja aquisição o Governo pretende estimular taxando os mais antigos e oferecendo a dádiva de três mil euros pelo abate (em troco, vejam-se os preços dos automóveis elétricos novos e quanto ainda faltaria juntar aos três mil euros), só funcionam com recurso a baterias.

Ora, de acordo com um trabalho do Guia Automóvel, uma bateria normal ‘lithium-ion’ pode conter 8 kgs de Lítio, 35 Kgs de Níquel, 20 Kgs de Manganésio e 14 Kgs de Cobalto.
Materiais que estão disponíveis na natureza mas que só podem ser utilizados para esta finalidade depois de minerados e posteriormente refinados.

O mesmo artigo alerta para alguns problemas desta fileira. “A utilização de dois destes minerais, o Lítio e o Cobalto, levanta preocupações que têm que ver com o impacto ambiental que decorre do processo de mineração e também com implicações sociais, tendo em conta as regiões em que o processo decorre.

Por exemplo, grande parte do Lítio provém de regiões pobres da América do Sul, em países como a Argentina, a Bolívia, o Chile ou o Perú. Independentemente da sua origem, seja por mineração ou sal, a sua extração exige grandes quantidades de energia e de água. No caso do segundo mineral mais crítico, o Cobalto, mais de 70% do que o mundo precisa é minerado no Congo, em condições difíceis e com recurso ao uso da mão-de-obra infantil”.

Para além disso, todo o processo de mineração recorre a maquinaria pesada, movida a (grandes litros de) combustíveis fósseis. O transporte do minério também necessita de grandes quantidades de energia, que não é necessariamente elétrica (mesmo os comboios movem-se a diesel). As fábricas onde ocorre a transformação e a produção das baterias, consomem energia para funcionar. O transporte das baterias para as fábricas automóveis recorre a combustíveis fósseis. No final, somando todas as parcelas, constata-se que a pegada ambiental dos carros elétricos ainda é superior à dos carros a combustíveis fósseis. E ainda nem saírem do stand de venda. É que, a isso, é preciso somar o custo ambiental do fim de vida das baterias.

Por aí se vê a justiça da medida de taxar os carros a combustíveis fósseis face aos “amigos do ambiente” elétricos, que estão isentos deste imposto, apesar de também circularem nas estradas, as mesmas estradas que são conservadas (deveriam ser) com recurso ao dinheiro arrecadado pelo IUC.

Querem uma economia amiga do ambiente? Ganhem juízo que isso já é meio caminho andado.

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