A opinião de ...

A força dos jornais

Longe vão os tempos em que se ouvia comentar:
" - Ó compadre, viste que o Homem chegou à Lua? É verdade porque li no jornal".
Hoje em dia, assiste-se a uma crescente e preocupante iliteracia para os media, com as novas gerações a resistirem cada vez mais ao apelo do papel.
Não só ao papel dos jornais mas de tudo o que seja analógico, como livros, revistas...
As gerações mais novas, nativas digitais (isto é, nascidas já depois da invenção e implementação da internet)consomem informação apenas nas redes sociais e, se por acaso acontecer, o olhar resvalar para algum dos noticiários televisivos à hora de jantar.
Tirando isso, são muito poucos os que, de facto, procuram informações em jornais e, quando o fazem, é nas versões digitais.
O telemóvel é, cada vez mais, o ponto de acesso, e menos os ecrãs do computador.
Ora, o que a pandemia recente nos mostrou é que o consumo de notícias, sobretudo online, disparou.
Quer isto dizer que, perante uma situação de crise, as pessoas sentiram a necessidade de se informarem. E, aí, os jornais voltaram a ser o principal ponto de interesse.
Assim como a modos de que só nos lembramos de Santa Bárbara perante a tempestade.
Por isso, a partilha de conteúdos através de redes sociais ou canais de troca de mensagens, como o whatsapp, ganha cada vez mais relevo no mundo atual.
Para além dos grupos em que se partilham jornais, de forma ilegal (incluindo o Mensageiro), estas aplicações servem para disseminar de tudo um pouco.
Foi o que aconteceu na passada sexta-feira em que uma brincadeira, que há 20 anos ficaria circunscrita a uma espécie de jornal de parede, fechado numa sala, acabou por se espalhar por Portugal e pelo estrangeiro como um rastilho de pólvora bem vitaminado (ver páginas anteriores).
O digital permite isso mesmo, a disseminação mais fácil e massiva do que quer que seja. E nós próprios servimos de alimento ao fogo do rastilho, com as partilhas que fizermos, de forma acrítica, sem olhar bem para o que acaba de nos chegar.
Afinal, como dizia a minha avó, "quando a esmola é demais, o santo desconfia".
Neste caso, se a informação que acaba de entrar no nosso grupo ou perfil, é demasiado cabeluda ou surpreendente, tem tudo para não ser verdadeira.
O primeiro passo a dar deve ser precisamente esse, o de questionar.
No caso em apreço, bastava uma consulta à página online do Mensageiro de Bragança para verificar que não havia notícia alguma sobre um novo bispo na diocese. Sendo o Mensageiro o órgão oficial da diocese, seria um bom ponto de "fact checking".
Por outro lado, não deixa de ser sintomático que o facto de a notícia falsa, brincadeira de 01 de abril, partilhada nas redes, mereceu mais crédito precisamente por ter a chancela do Mensageiro. Só foi pena é ser falsa.

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