A opinião de ...

Liberdade, onde vais?

Na década de 1990, João Aguardela e o seu grupo Sitiados cantava uma ode ao soldado.
“Ai, esta eterna guerra
Ai, que me obriga a ser soldado
Já vejo a bandeira erguida
Já sinto a dor companheira

Ai, neste mar fico tão só
Por este mar
Liberdade onde vais?
Liberdade onde cais?

Esta luta é por te amar
(...)”

Lembrei-me desta canção a propósito da notícia de terça-feira, do Jornal de Notícias, de que a Assembleia da República recomendou ao Governo que desenvolva campanhas de recrutamento para as forças de segurança dirigidas a pessoas que pertençam a comunidades específicas. A ideia, diz o JN, é incluir mais pessoas LGBT+, migrantes, afrodescendentes ou comunidades ciganas, aumentando a diversidade nas polícias.
À primeira vista, não se vislumbra nada de errado. Mas há uma dúvida que me assalta o espírito. Até que ponto é que a liberdade atingida por decreto é, na sua essência, livre e não apenas mais um grilhão que nos condiciona?
Para as forças de segurança deveremos querer um bocadinho de cada coisa, ao jeito de um bufê de hotel, uma espécie de salada de frutas muito harmoniosa e bonita à vista ou devemos privilegiar os melhores frutos e mais saborosos?
Ao condicionar as entradas nas forças de segurança à pertença a determinados grupos está-se, precisamente, a fazer aquilo que se apregoa combater, que é a segregação e a discriminação.
Não será mais livre abrir o acesso àqueles que se queiram candidatar e, de entre esses, escolher os melhores, se forem mais os candidatos do que as vagas?
É um pouco como a questão da presença das mulheres na política, que também é alvo de decreto. Até que ponto não se trata de estar a diminuir o papel da mulher ao considerar que não há capacidade, por si só, de atrair as melhores das mulheres para a causa pública e que têm de ser ‘protegidas’ com quotas?
A participação pública deve ser livre e uma escolha pessoal, ponto.
Na sociedade atual, caminhamos cada vez mais rumo a uma uniformização completa. O elemento que se destacar é alvo de crítica e da fúria. Em vez de se promover a evolução e o crescimento, promove-se a uniformização e a padronização, criando exércitos de coisas iguais.
Deixemo-nos de pruridos e tratemos de forma diferente o que é diferente. Vamos permitir a liberdade com liberdade e não condicionada. Liberdade condicionada não é mais do que uma prisão ao ar livre.

Edição
4007

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