A opinião de ...

Mudanças sublimes na narrativa

Desde as eleições legislativas de 10 de março que o país vem assistindo ao flutuar de narrativas, de discursos.
Ainda na eufria da vitória tangencial, muitos foram os que não pouparam conselhos ao novo Governo, indicando o único caminho possível para garantir a sua manutenção sem necessidade de ter de voltar a ir a eleições: usar o excedente financeiro - os milhões até se arramavam dos cofres públicos - para calar as contestações dos diversos setores da sociedade, dos polícias aos professores, passando pelos médicos e enfermeiros aos técnicos de emergência pré-hospitalar (do INEM).
Mas, volvido pouco tempo, as agulhas de quem governa mudaram de tom e, agora, o que se ouve é que não há dinheiro.
Seja o “nem mais um euro” da negociação com os polícias ao próprio Ministro da Agricultura que, em Vila Flor, avisou que não haverá dinheiro suficiente para todos os projetos que estavam em curso. E isto para não falar dos que estão só em projeto mesmo, como as três barragens há muito reclamadas pelo concelho de Bragança, e cuja verdadeira história da sua não construção (pelo menos uma poderia ter sido, dizem as más línguas) um dia ainda será desvendada.
Certo é que a perceção pública da situação vai-se alterando. Da euforia inicial à desilusão subsequente. Afinal, os amanhãs não cantavam tanto como prometido.
A estratégia de baixar expetativas é há muito conhecida. Prometer pouquíssimo para que o pouco que se dá pareça muito. Sobretudo numa altura de negociação de orçamento de Estado, e em situação de minoria na Assembleia da República, baixar as expetativas é palavra de ordem. A começar pelas de quem governa.
O problema é que essas expetativas já tinham sido elevadas anteriormente, à força de esteróides e por força da campanha eleitoral.
Ora, já o povo dizia que quanto mais se sobe, maior é o tombo.
Portanto, quanto mais altas forem as expetativas, mais doloroso é o regresso à realidade... por melhor que ela seja.
E os sindicatos já esfregam as mãos de contentes. É precisamente em períodos de lutas de classe que os associados aumentam...

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