A opinião de ...

3.342.532.88 DE EUROS!....

Sim, é exatamente o que estão a ler.
Para que não restem dúvidas a ninguém, especialmente àqueles que possam ter alguma dificuldade para avaliar a dimensão e o significado da quantia de dinheiro contida nestes dez números, direi apenas que esta foi a parte de leão que, com apadrinhamento do governo, socialista, geringoncista, ou sabe-se lá bem o quê, saiu do pacote de quinze milhões de euros destinado a apoiar órgãos da comunicação social, e foi cair direitinha nos cofres duma só empresa privada, neste caso a Média Capital, a dona e senhora da TVI. Mas as coisas não acabariam por aqui, nem seria este o único e grande disparate.
Segundo constou, este generoso bolo de quinze milhões de euros, sim, leiam bem, quinze milhões de euros foram sacados dos bolsos dos contribuintes, para, de mão beijada, serem entregues a empresas de comunicação social, muitas das quais de interesse muito duvidoso, que, à priori, deveria ser distribuídos por cerca de trinta órgãos de comunicação diversos, incluindo rádios, televisões, jornais, revistas etc., presumidamente para alívio das perdas causadas pela pandemia COVID-19.
Foi no âmbito deste processo, vigorosamente contestado pelos critérios altamente questionáveis de seleção dos destinatários e pela forma encontrada para a posterior distribuição do dinheiro, que nasceram os cenários que permitiram atribuir à referida empresa privada, a choruda e escandalosa fatia de 3.342.532.88 euros, qualquer coisinha como cerca de 23% do bolo total de quinze milhões disponibilizado pelo nosso governo.
Longe de mim por em causa a louvável generosidade do governo e, muito menos, descrer do seu sentido de responsabilidade social mas, e talvez por isso, não me demito do direito de alertar de que enquanto:
- Mais de120 000 portugueses sobrevivem apoiados pela “sopa dos pobres” e por diversas ONGSS;
- Milhares de pensionistas e de reformados sobrevivem com pensões vergonhosas e imorais de meia dúzia de euros;
- Um número assustador dos novos pobres envergonhados vegeta com o apoio possível de familiares e amigos;
- Muitos portugueses necessitados de cuidados especiais se arrastam em condições de miséria e humilhação imerecidas;
- Um número preocupante de portugueses idosos, por falta de dinheiro, já não compra medicamentos indispensáveis;
- Muitas famílias só vão sobrevivendo porque os merceeiros da rua reabriram os malfadados livros “dos fiados”;
- Pela calada das noites, muitos pais e mães, vasculham o lixo na esperança de levarem “alguma coisa” para casa;
- Dando a uma só empresa 23% do bolo, os restantes 77% divididos por dezanove para pouco ou nada servirão,
Enquanto acontece tudo isto e muito mais, curiosamente, (ou talvez não), como se nada disto dissesse nada a ninguém, não se sabendo, (ou não querendo saber) por que sorte ou milagre, os quase três milhões e meio de euros foram parar à conta da dona da TVI que, antes que ganhassem pó nos cofres do banco, muito provavelmente espanhol, se apressou a gastá-los de uma assentada para satisfazer o capricho de desviar da concorrência uma sua ex-profissional da comunicação.
Chamem a isto o que quiserem chamar mas, num país como o nosso, que teima em viver acima das suas posses, dependendo dos empréstimos que se vão acumulando numa dívida externa colossal e sufocante, jogadas como esta terão de ser consideradas, no mínimo, como inoportunas, lamentáveis e imorais.

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