50 anos de «Abril»: Balanço político e social. II.II.11. Da mecanização à Inteligência Artificial
A Sociedade Electrónica Nanoecnológica, a quinta vaga tecnológica e civilizacional, mas terceira da Sociedade Pós-industrial, foi a área em que o país mais evoluiu. Quase residual em 1974, catapultou o país para as mais modernas formas de automação, robotização e de modernização tecnológica e comunicacional, derivadas da tecnologia electrónica e digital, incluindo a nanotecnologia electrónica e a inteligência artificial.
Nesta área, evoluímos da sociedade da terceira vaga, que atingiu a automação, a robotização e a informatização, para a quinta vaga, que designarei por sociedade electrónica nanotecnológica, em que substituímos as máquinas, quaisquer que elas sejam, por processos metatecnológicos, aproximando-nos do trabalho pelo pensamento puro, realizado por máquinas, hoje designadas como computadores, processadores e microprocessadores, mas com nome em aberto no futuro dado que já nos transportam para a IA (Inteligência Artificial). Resistirá o cérebro humano a tanta inteligência e capacidade operativa e criadora não humana? Atingirá esta tecnologia formas afectivas de pensamento?
A Sociedade Pós-industrial da Terceira Vaga realizou-se nos EUA a partir de 1950 e, em Portugal, de 1970. Alvin Toffler (1969) caracterizou-a como sociedade da automação, da robotização e da informatização. Portugal deu os primeiros passos na informática em 1970, seguindo-se a robotização, nos anos 80, a sociedade da informação e a governança electrónica, a partir do início dos anos 2000, e, em 2022, a Inteligência Artificial. Na governança electrónica, Portugal atingiu os lugares de vanguarda a nível mundial.
Claro que estas mudanças não foram generalizadas à população. Exprimiram-se, como todas as mudanças, pela acção das elites, sobretudo económicas, dado o atraso da academia, mas logo se estenderam a esta e, nas operações mais simples, ao público em geral. Hoje, pelo menos 75% dos portugueses usam o computador no dia a dia para ler notícias, ter acesso a serviços e para contactar amigos numa rede social. A sociedade informacional é mais difícil de medir pois os meios tradicionais de informação e de divulgação da opinião publicada – os jornais, revistas, rádio e televisão – caíram em número de consumidores, sendo mais difícil quantificar e caracterizar o universo das interações comunicacionais e informacionais por meios alternativos.
Vivemos pois numa sociedade da interacção comunicativa e participativa como anteciparam desejando Jurgen Habermas e Manuel Castells, em 1970, mas os resultados destas interacções não contribuem todos para a melhoria da nossa civilização revelando, em grande parte, pelo contrário, uma desregulação do espaço público que afecta a verdade desejada e a segurança na vida social. Termos como pós-modernidade e pós-verdade reflectem a perda de referentes seguros nos processos sociais ainda que assegurem a possibilidade de expressar formas subjectivas e criativas da informação. Isto revela a necessidade de alguma estabilidade nos valores e orientações das concepções e práticas sociais sob pena de uma mudança descontrolada e uma anarquia pensante e actuante, que conduzirá à desordem, em todas as áreas. Mudar e evoluir, sempre, mas com salvaguardas.
A Inteligência Artificial pode ser um bem mas, como todos os objectos e capacidades, também pode ser um mal. Protejamo-nos sem hipotecar a abertura ao futuro.
(Continua, II.II.12 (último) – Democracia e participação)