A opinião de ...

O pior sintoma europeu

A última semana trouxe-nos uma notícia esquiva: os judeus europeus estão a abandonar a Europa e a emigrar ou para Israel ou para os Estados Unidos da América (EUA), queixando-se de antissemitismo.
Comecemos por enquadrar o leitor dizendo que o antissemitismo é um movimento contra os judeus e contra Israel e contra tudo quanto a história e cultura destes representam. O antissemitismo tem várias origens, repetiu-se ao longo da história, mas a vaga actual é de origem religiosa e, mais uma vez, de origem económica.
De ordem religiosa porque tem subjacentes a laicização das sociedades, o declínio do cristianismo e o avanço do islamismo na Europa. Porém, a laicização não é um movimento geral e único, proveniente da aceitação universal da explicação científica como princípio de compreensão e de explicação da natureza e da sociedade; e da substituição da doutrina religiosa cristã pela lei constitucional e leis subsequentes.
Pelo contrário, a laicização tem um contramovimento, que é a «coranização» da população europeia, seja pela via da evangelização no Corão seja pela via da importação de população catequizada no Corão. Na civilização muçulmana, não há distinção entre poder religioso e poder laico. Eles estão fundidos um no outro. Não é possível falar em laicização do Estado e da Sociedade islâmicos porque a fonte de verdade é o Corão e a ciência tem de ser submetida a Este enquanto critério de compreensão, de explicação e de acção.
Os principais infiéis para a civilização islâmica são os judeus e os cristãos. Os cristãos acreditam numa religião racional, compaginável com as explicações da natureza e da sociedade através da ciência. Mas a perseguição aos judeus é apenas o primeiro passo na perseguição aos cristãos. Se os cristãos (católicos, protestantes, evangélicos e ortodoxos) não acordarem, a Europa será uma civilização islâmica dentro de 40 anos. O pior que os cristãos farão é justamente afastar da Europa os judeus porque estes constituem a primeira barreira de defesa da civilização cristã, tanto pelo seu poder económico (razão principal da sua perseguição, sempre) como pelo seu radicalismo religioso.
O Iluminismo, iniciado em meados do Século XVIII por Condorcet, D`Alembert e Rousseau, julga que ainda não cumpriu integralmente a missão de banir a religião cristã e instaurar uma sociedade baseada na ciência. Não reparou, porém, em que incorporou nos seus ideais de democracia os princípios do cristianismo sem os quais a democracia morrerá e em que o vazio religioso da humanidade tendeu a ser preenchido por outra religião, neste caso, a muçulmana. Isto porque o fenómeno religioso é imanente à humanidade na sua busca de perfeição e de superação da finitude.
A solução, portanto, não está em negar um Deus, inspirador de uma religião de liberdade, mas em esclarecê-lO à luz da ciência e da razão pelas comunidades científica e religiosa. E em exigir às igrejas diálogo e participação na definição doutrinária. A religião é um negócio da eclésia (comunidade) e não só do poder, quase sempre escondido, das igrejas.

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3503

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