A crise aproxima-se
Portugal está à beira de um novo colapso financeiro. Este tipo de evolução é sempre muito difícil de prever com exatidão, excepto em casos extremos. Mas este é um caso extremo.
Primeiro, o Orçamento de Estado, depois das medidas de contra-austeridade aprovadas no início do ano, está com muitas dificuldades em conseguir uma redução do défice. O Governo prometeu ao mesmo tempo acabar com os cortes e, apesar disso, cumprir as imposições europeias. Só obtia o paradoxo pela promoção do crescimento que aumentaria as receitas fiscais. A meio do ano é já claro que a previsão de aumento do produto do documento era demasiado optimista, que será cerca de metade do vaticinado.
O problema principal está no sistema bancário e na inoperância das autoridades a lidar com ele. Para lá de casos muito sérios, como BPN, BES, BANIF, entre outros, existem problemas gerais que afectam todos. Após década e meia de estagnação, até os créditos razoáveis que as instituições concederam estão com grandes dificuldades em ser pagos. Nesta situação, a necessidade de novo capital bancário dificilmente será satisfeita pelo mercado, deflagrando novo pedido de ajuda externa.
Pior, a economia mostra sinais muito preocupantes. Com o investimento no nível mais baixo da história registada, e a poupança das famílias em níveis negativos, não existe força para resolver mesmo um problema muito menor. Por todas estas razões, a que se junta os conflitos e alheamento da classe política, parece evidente que se aproxima novo colapso financeiro.
Que podemos fazer? A sociedade portuguesa já enfrentou situações destas, a última há poucos anos. Não será uma surpresa. De novo o Estado, apertado nas contas, faltará às promessas. Serão as famílias e a Igreja a acudir aos fracos e atingidos. Voltaremos a assistir ao ajustamento que as nossas empresas e trabalhadores conseguem fazer em épocas difíceis. Emigração, reestruturações e redefinições de actividades, renascimento de empresas falidas, e muitos outras formas de adaptação em que somos especialistas.
Uma novidade deste caso será uma provável mudança na elite económica. Assistimos nos últimos tempos à queda de algumas das figuras mais marcantes da vida portuguesa das últimas décadas. No decisivo sector bancário, mas também noutras áreas da economia, os líderes que tomaram as decisões que nos trouxeram ao colapso serão substituídos por outros, alguns deles estrangeiros. No mundo globalizado em que vivemos, isso não nos deve assustar. O que é importante é que os novos líderes recusem a captura por amizades e interesses corporativos e privilegiem a eficácia, a produtividade e a competência. Senão cairão como os anteriores.
Esperemos que, quando acabar esta próxima crise, o país esteja finalmente equilibrado e capaz de lançar o novo surto de desenvolvimento. Foi por ter deixado largamente incompleto o ajustamento económico, apesar dos protestos dos que diziam que estava a ser demasiado duro, que o anterior programa de austeridade tornou inevitável esta nova crise.