D’Onor: quando um festival une pessoas e afirma identidade
Em pleno Parque Natural de Montesinho, Rio de Onor “quase longe, muito longe, onde a terra nos embala com amor... e pelos caminhos do saber” como diz Sebastião Antunes na sua canção, onde os montes parecem preservar memórias sacras sussurradas por gerações, voltou a ser, neste mês de julho, mais do que uma aldeia — foi um espaço e um tempo de encontro, de celebração e de profecia cultural.
Tal deriva da realização, entre os dias 18 e 20, do Festival D’Onor, expressão viva de uma identidade comum que une duas terras de uma só alma: Rio de Onor, em Bragança, e Rihonor de Castilla, na província de Zamora.
Em 2017, esta nossa aldeia foi justamente distinguida como uma das 7 Maravilhas de Portugal, na categoria de Aldeias em Áreas Protegidas, que nos maravilha não apenas pela paisagem, pelo casario ou pela geografia algo bucólica.
Deslumbra-nos igualmente o modo como a comunidade preserva, apesar da vetusta idade de muitos dos seus parcos habitantes, com rigor e afeto, uma cultura feita de entreajuda, de fala partilhada, de vínculos que nenhum traço de fronteira consegue separar.
Por isso, o Festival D’Onor não foi e não é apenas um festival. Faz jus ao nome que ostenta e hoje por hoje, é mesmo um gesto de afirmação identitária, uma forma de dizer ao mundo que este território não é periferia, mas centro de valores essenciais: desde a solidariedade intergeracional à força da memória até à beleza do que é simples e verdadeiro.
Como em outros anos, o programa deste ano abrangeu música, danças tradicionais, cinema, animação de rua, baile, ronda cultural e das adegas, gastronomia local, mercadinho de produtos, jogos tradicionais, demonstrações de artes e ofícios, convívio entre gerações e até DJ’s para os mais jovens — porque honrar a tradição não exclui dialogar com o presente.
Assim, mais do que um evento, o Festival persiste em ser encarnação de uma ideia profunda: que a cultura não se preserva em vitrinas, mas em vivências partilhadas, isto é, vive-se, escuta-se, dança-se e até se saboreia.
Este espírito esteve muito presente, elevando-se ainda mais a uma dimensão internacional, espelhando-se na presença de visitantes e participantes de várias proveniências geográficas, pois imagine-se que até do Chile!
É que Rio de Onor é feita desta irmandade entre as pessoas e os povos e que transborda nos gestos concretos de convívio e partilha, que encantam qualquer pessoa.
Parabéns por isso à “Montes de Festa – Associação”, nascida em 2016 pela vontade e dedicação de jovens brigantinos que decidiram não assistir passivamente ao esquecimento, mas agir com criatividade e inovação.
Uma associação sem fins lucrativos, mas com um lucro imensurável: o de oferecer vida, orgulho e vislumbre de futuro a uma aldeia que merece continuar a ser distinta. Neste sentido, parabéns também a todos os que apoiaram e patrocinaram esta iniciativa, sinal de que quando as entidades se juntam, tudo é possível.
Em tempo de ruído e pressa, Rio de Onor ensinou-nos, uma vez mais, a escutar devagar e a reconhecer que nesta aldeia fascinante a festa é mais do que diversão pois é sobretudo partilha e identidade.