A opinião de ...

Heranças Literárias

Em comunicação direta aos associados a Direção da Academia de Letras de Trás-os-Montes (ALTM) deu nota da jornada literária iniciada no dia 27 de outubro em Vila Real. Sob o pretexto da apresentação do livro “Enquanto Diana Dormia” da autoria do Presidente da Mesa da Assembleia da ALTM, Francisco Caseiro Marques, quem acorreu ao Centro Cultural vilarrealense pode ouvir, não só a Presidente da Direção, Assunção Anes, mas igualmente a escritora e antropóloga brasileira, Maria de Nazaré Paes de Carvalho. Com visitas, nos dias seguintes a Sabrosa, Montalegre, Chaves e Lamego, os dois dirigentes portugueses, acompanhadas da paraense completavam o ciclo anual dos Encontros Literários da Lusofonia, iniciados em agosto em Belém do Pará.
Esta cooperação cultural, foi iniciada pelo município de Bragança, quando era presidente Jorge Nunes e foi-lhe dado seguimento pelo atual executivo nordestino e, entretanto, no âmbito de inquestionável legitimidade, ficou totalmente suportado pela ALTM. A participação dos dirigentes da Academia nas jornadas deste anos, na Amazónia, já não teve qualquer apoio institucional, o que deve ser assinalado.

Em texto recente publicado na imprensa regional critiquei a forma como a Academia de Letras participou na Festa dos Livros, onde a promoção dos autores locais foi secundarizada de forma pouco condicente com a missão da ALTM. Houve quem visse nesse meu artigo uma acusação à ALTM e um ataque direto à sua Presidente. Pelo contrário, era uma declaração de apoio claro e incondicional à Academia… se, perante situações de difícil decisão resolvesse prescindir do determinado apoio político, em prol do interesse associativo. Defendi o entendimento e a colaboração da nossa agremiação com todas as autarquias transmontanas, sem exceção. Porém, antes disso está a missão vertida nos estatutos e se, em determinado momento, a opção, legítima, de qualquer edilidade se afastar do interesse cultural dos autores a direção deve optar por estes últimos mesmo que isso represente uma perda de apoio. Assunção Anes, a quem reconheço e credito inteligência e perspicácia, sobretudo, dedicação à literatura em terras transmontanas terá percebido (o contrário seria uma grande desilusão…) que terá em mim um defensor de uma posição que, apesar da dependência dos poderes locais, não pode ser de subalternidade, no que toca aos interesses dos associados da instituição que dirige. O horizonte e a atuação da ALTM não é, nem tem de ser, coincidente com o dos poderes regionais e as escolhas justas, de cada uma das partes, sendo bom que se complementem, não têm que ser idênticas em todo o tempo.
As heranças lusitanas na amazónia representam um ativo cultural que deve ser acarinhado, promovido e desenvolvido. Fazê-lo, cumpre, integralmente, o que está plasmado nos Estatutos da nossa Academia. Não tem, necessariamente, de fazer parte do programa cultural de qualquer Câmara.
Tendo criticado a forma como a ALTM se associou a um evento que, na sua concretização, se afastou dos interesses que deve promover, não posso deixar de elogiar a adesão a uma iniciativa que, pelo contrário, coincide com estes.

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