A opinião de ...

Memória

Marco António Costa afirmou, recentemente, em Viseu que os portugueses olham para o PSD como um referencial de estabilidade por contraponto do que se passa no maior partido da oposição! Sendo, de alguma forma verdade, não me impede que abra a boca de espanto com tamanha falta de originalidade. Em 2010 ouvia-se exatamente o mesmo e com a mesma dose de verdade, igual “acusação” mas dos dirigentes socialistas acerca do ambiente social-democrata. Será que os dirigentes deste país perderam a memória. Ou porventura imaginarão que fomos nós que a perdemos?
 
Apesar de gostar muito de história nunca fui grande aluno a esta disciplina desculpando a minha falta de empenho com a menor qualidade do professor que há mais de quatro décadas me introduziu o tema. Temo bem que esteja a ser injusto, sendo certo que do homem não lembro nem o nome embora retenha viva uma frase dele que, essa sim, me marcou: “A História repete-se”!
É por isso que o conhecimento do passado é importante! Para que as repetições sejam devidamente potenciadas, acauteladas ou evitadas, de acordo com o juízo que a história faz do relato que nos traz.
 
Não é meu hábito ler em paralelo mais que uma obra. Mas foi isso que fiz recentemente: Enquanto lia “Os Isidros” do meu conterrâneo António Júlio Andrade em parceria com Maria Fernanda Guimarães, não resisti a iniciar a leitura de “Portugal a Flor e a Foice” de J. Rentes de Carvalho. E a frase do meu velho professor liceal surgiu de repente e vai-se mantendo no desenrolar das duas histórias separadas por quatro séculos: quer o Santo Ofício, quer a Repressão Fascista começam de forma suave, quase ingénua, sensível e pressionável aos argumentos e provas das vítimas (sobretudo quando estas representavam alguma forma de poder político e financeiro) e ambos os sistemas endurecem aumentando a crueldade, a dureza e blindagem em termos absurdos e paranóicos. Quer num quer noutro, começando por fundamentos com alguma solidez na acusação e perseguindo por isso objetivos concretos, mesmo que reprováveis, “evoluem” para a mesquinhez adicional de se tornarem instrumentos de vinganças pessoais praticadas pelos que desprezivelmente são instituídos em informadores dos juizes prepotentes. Se a história, os métodos e a evolução (e os dramáticos resultados) eram conhecidos desde o século XVI, como foi possível permitir que o século XX no-los tenha de novo apresentado e estabelecido? Não era sabido que era assim? Pelo menos agora fica provada a tese do meu professor de História do antigo quarto ano liceal. Foi assim, tal e qual e repetiu-se. E pode repetir-se se a memória não o impedir!
 
Por isso é tão importante a memória. Que os dirigentes políticos não o esqueçam, NUNCA!
Mas se o esquecerem (como tantas vezes parece acontecer) que o não esqueçamos nós!

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