A opinião de ...

O 4 e o 5 (entre o 8 e o 80)

Há um ano era proclamado, em Portugal, o primeiro Estado de Emergência da nossa Democracia. Perante um inimigo terrível, invisível e dramaticamente eficaz, surgiu entre todos, sem quaisquer exceções, dignas de monta, um consenso sobre a necessidade de recorrer a todas as armas disponíveis para fazer frente a tão poderosa ameaça. Esta união e consenso, à volta da defesa, perante a ameaça, justificavam-se por causa do terror com que éramos fustigados, todos, por igual. Mas, com o andar do tempo desfez-se a unanimidade precisamente porque o primeiro dos pressupostos não se manteve. A forma como a pandemia atingia as diferentes populações, sendo aparentemente idêntica, em boa verdade, provocava consequências bem diversas dependendo do país onde ocorria e, dentro destes, as classes e condições dos alvejados. Igualmente e, sobretudo, os agentes públicos, sendo promotores, executores ou legisladores, começaram a ter, da situação pandémica, visões divergentes e a serem influenciados por ela de forma bem diversa. Estamos, um ano que foi passado, perante várias propostas, convicções, situações e determinações claramente diferentes em que não é fácil decidir de que lado se encontra a razão absoluta e inquestionável... talvez porque o extremar de posições levou os vários agentes para os limites mais afastados das putativas soluções. Encontrar soluções que estejam algures entre o oito e o oitenta seria a forma de resgatar o entendimento, quisessem os agentes olhar para lá do seu umbigo onde encontram, razões que, não sendo únicas, os satisfazem, embora não respondam nem anulem os juízos que se lhe opõem.
Vejamos.
O prolongamento das moratórias não resolve o problema dos crescentes níveis de crédito, bem pelo contrário, vai agravar e agigantar o enorme embate com a realidade difícil de suster e ultrapassar. Mas com que argumento se pode exigir o início do cumprimento das obrigações perante os financiadores a quem não é possível ainda, conceder todos os meios económicos que lhes permitam obter os meios para isso?
A violação da Lei Travão, ao arrepio da Constituição, é inaceitável porque a Lei Fundamental do país tem de ser respeitada, por todos, muito especialmente por quem é responsável, por a defender, cumprir e fazer cumprir. Mas como ignorar as injustiças, sem nada fazer, quando a Lei as promove quando, precisamente, se chama, exercício de justiça, ao cumprimento da mesma Lei? De que lado pode e deve ficar o defensor da Constituição que só o é, porque representa o povo a quem, igualmente, deve a promoção da equidade e igualdade de tratamento e de oportunidades?
Diferente é, sem dúvida, a resposta efetiva dos dois blocos político-económicos ocidentais. Apesar de, por causa do trumpismo, os Estados Unidos se tenham atrasado imenso no combate à COVID19, sob a égide de Biden, rapidamente recuperaram e ultrapassaram, não só a União Europeia, como, igualmente as suas próprias metas, já de si, ambiciosas.
O Presidente americano, tem vindo a encurtar o período de vacinação do país permitindo-lhe prometer, credivelmente, ter praticamente toda a população imunizada no dia da Independência, 4 de julho.
Não querendo ficar atrás, o inefável Ministro Português dos Negócios Estrangeiros, investido em Presidente da União, no presente semestre, veio garantir que a nossa ambição é semelhante. O grosso da vacinação há de ficar igualmente completo a 5... de outubro.

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