Os tratores agrícolas e os acidentes
Tendo em conta a ruralidade da nossa região e a atividade agrícola inerente, somos, frequentemente, confrontados com notícias que dão conta de acidentes relacionados com as máquinas que operam no âmbito deste setor produtivo.
De entre os inúmeros acidentes, mais ou menos graves, destacam-se aqueles que ocorrem envolvendo os tratores agrícolas.
Ainda na semana passada, o Mensageiro de Bragança, deu conta de três acidentes relacionados com tratores, que causaram outras tantas vítimas mortais, no distrito de Bragança. Mas já, entretanto, outro aconteceu mais um outro acidente grave, no mesmo contexto, neste caso, no concelho de Macedo de Cavaleiros.
Se é certo que os acidentes surgem inesperadamente em qualquer lugar ou momento da vida, não deixa de ser lamentável o número de vitimas, operadores de tratores agrícolas.
Se há uma área onde me sinto com algum à-vontade para falar do assunto, este, relacionado com os tratores, faz parte de mim, desde os meus 10/11 anos de idade.
Claro que a necessidade me obrigou a evoluir e a aprender em função dos problemas que iam surgindo. Na altura, poucos eram aqueles que sabiam manobrar um trator, a lavrar, a cegar feno, a ceifar, com a ceifeira atadeira, ou mesmo com as antigas malhadeiras, instaladas na eira. Formação, essa, simplesmente, não existia.
O saber adquirido, de experiência feito, aconteceu em cima de um trator, sem o conforto, nem a tecnologia, dos de hoje, com muitas horas, ao sol, ao vento, ao frio, à chuva… Felizmente, nunca tie nenhum acidente!... Ainda hoje, quando conduzo o trator, faço-o sempre com muito respeito pela máquina e responsabilidade na ação, bem sabendo que o perigo resulta, muitas vezes, da imprevisibilidade, em qualquer situação.
Minimamente atento ao que se vai passando neste domínio e ao que vou assistindo, sobretudo quando estou na aldeia, não posso deixar de reconhecer que as principais causas de acidentes se deverão, não só à falta de atenção na condução dos tratores e de respeito pelas medidas de segurança, como também de preparação para a respetiva função, ou seja, atividade operacional.
Por outro lado, nota-se, a falta de utilização de vestuário e outros equipamentos adequados por parte dos operadores, bem como dispositivos, obrigatórios, que tornem os tratores e respetivas alfaias, ainda mais seguras e mais compatíveis com as tarefas a executar, em função o relevo dos terrenos onde os trabalhos se vão operar.
Os tratores foram concebidos para, ao serem utilizados na agricultura, estarem sempre aptos ao nível mecânico, com revisões e demais funcionalidades operativas disponíveis, prontas a responderem com eficiência. Por outro lado, é imperioso que sejam manobrados por gente competente e consciente, devidamente habilitada/certificada, tanto ao nível operativo, como mental e físico. Não se pode conceber, por exemplo, que se verifiquem casos em que na máquina – trator – apenas com o lugar para o condutor, viagem mais pessoas, ou mesmo animais, se transportem utensílios que impendem os movimentos, a destreza e clareza do operador, situações que evidenciam atitudes inseguras.
São máquinas de primordial importância na agricultura. Em si mesmos, não constituem perigo iminente. A sua perigosidade resulta, a maior parte das vezes, da falta de adequada manutenção, do cumprimento do código de estrada, da falta de leitura atenta dos manuais de instrução, que poucos lerão com atenção, da negligência dos operadores e da adaptabilidade à função e do incumprimento das normas básicas de prevenção.
Os custos sociais, familiares e financeiros, decorrentes dos acidentes de são elevados e irreparáveis. Sendo Portugal o segundo país da Europa com mais acidentes com tratores, dois em cada três são mortais, importa que seja realizado um trabalho eficaz ao nível da sensibilização, preparação e formação inerente dos respetivos operadores.
É, neste contexto, de lamentar que, sobretudo dadas a condições económicas e estruturais, sejam em número significativo os idosos que são “obrigados” a conduzir/manobrar os seus tratores, com a inerentes limitações ao nível da destreza, fucionalidade e agilidade, o que potencia condições favoráveis a um maior número de acidentes.
Para além da confiança, é determinante tratorizar em segurança.