A tradição, a música, o azeite e o pão...
Sou de origem rural e com este meio mantenho uma estreita ligação, até porque me honram as minhas raízes e gosto muito da minha pequenina aldeia, Frieira. Saliente-se que se trata de uma antiga vila, com história e tradição. Considero-me daqueles que se lembram dos “caminhos velhos” porque tenho sempre “saudades da terra” e, na verdade, quando me é possível dou uma volta por esses caminhos, cada vez mais velhos e pouco calcorreados. Inerências dos tempos e das consequências do ritmo da economia e da vida.
Decorrente da minha disponibilidade, faço questão de exercer uma participação ativa em tudo o que diz respeito ao reviver das atividades agrícolas, culturais e que se prendem com a manutenção das tradições rurais. Tudo isto tem, para mim, uma singular importância, não só porque gosto e entendo que é determinante para a humanização e desaceleração do processo da desertificação, mas também porque todos nós devemos olhar para as nossas aldeias como locais de grande riqueza natural e imaterial, potenciando os aspetos positivos e procurando intervir de forma criativa nos mais negativos. Cada vez mais se torna imprescindível dar vida e olhar para o meio rural, apostando naquilo que vale a pena, com olhos no futuro.
Por isso, é com muito agrado que constato o dinamismo que se evidencia em muitas localidades do Nordeste rural, no sentido de potenciar os seus recursos naturais, os seus produtos locais, a sua riqueza histórica e cultural. E também, não menos importante, a imaterial, a dos afetos. Se todas a atividades e realizações rurais não se sustentarem, também, na genuidade e pureza dos afetos, não são a mesma coisa, nem alcançam os objetivos de forma tão transversal e sustentada.
Com efeito, não obstante muitas outras realizações ou eventos que por aí acontecem, não posso deixar de realçar, pela sua importância e dinamismo, inerentes, bem como pelo que representam para a suas gentes, o Festival de Música e Tradição, que decorreu, no passado fim de semana, na aldeia de Palácios, e a Feira do Azeite e do Pão, na freguesia de Macedo do Mato, que, no próximo domingo, terá a segunda edição.
Estes dois eventos, em duas localidades do concelho de Bragança, que revelam dinamismo e vontade de empreender, concretizando ideias, partilhando vontades e envolvimento das respetivas comunidades, são exemplos vivos que podem e devem ser seguidos.
Trata-se de oportunidades e provocações que constituem interessantes desafios que evidenciam a humildade, a entrega e a vontade dos seus responsáveis em fazer mais e melhor pelas terras que representam, a cada momento, com a consciência de que, no meio rural, não obstante a boa vontade de alguns, é sempre difícil ousar e levar por diante a concretização de projectos e fazer “mexer” as comunidades.
Porém, uma forma de conseguir é ir exercitando até se tornarem naturais, como é caso do Festival de Música e Tradição “Lombada”, de Palácios. De resto, ainda que seja reconhecido que se trata de organizações arrojadas, a existência de critérios e objetivos definidos e sustentados, procurando sempre melhorar, é uma enorme ajuda e um grande passo para a motivação dos intervenientes e das gentes.
E se o Festival de Música e Tradição de Palácios, foi mais um êxito conseguido, acredito que a Feira do Azeite e do Pão, em Macedo do Mato, no próximo domingo, será, certamente, um êxito repetido.