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Solar de Vila Boa de Arufe demolido para construir outro totalmente novo

O solar da Quinta de Vila Boa de Arufe, na freguesia de Rebordainhos, o paço da nossa história colectiva, foi irremediavelmente demolido para construir outro totalmente novo. Trata-se do edifício dos Figueiredos Sarmento - a mais célebre estirpe de Bragança durante o período moderno. Esta linhagem deteve a alcaidaria-mor do Castelo durante os séculos XVI-XVIII. Pois, o palácio desta família, que tão valorosos serviços prestaram à cidade, foi completamente arrasado. O projecto do exterior, na “internet”, comprometia-se a “preservar a fachada neoclássica do século XIX e potenciar as características arquitectónicas atuais” [1]. Com a demolição total do edifício setecentista tudo foi apagado. Nada vai restar da capela e dos seus símbolos matriciais, como a cruz e os pináculos, sobre o telhado […].
O Abade de Baçal, no primeiro tomo das Memórias, faz referência indirecta à Quinta, ao falar de Francisco da Costa Homem, alcaide-mor de Bragança e do castelo de Outeiro, nomeado por D. Jaime [1479-1539], como possivelmente da família dos Figueiredos da Quinta de Arufe [2].
O mesmo autor diz-nos que, em 1721, era administrador do morgadio Sebastião de Figueiredo Sarmento, por nomeação que nele fez seu avô Lázaro [3]. Este senhor, que era cavaleiro da ordem de Cristo e capitão de infantaria, ainda morava na quinta em 1758 [4].
A pergunta é óbvia: como pode isto ainda acontecer nos dias de hoje? Será que alguém pode despedaçar o património concelhio, sem correr o risco de estar a mexer em algo que desconhece? Será que não é um risco “fazer urbanismo” sozinho? Será que o conhecimento técnico e a consciência cívica coletiva não se deverão levantar e marcar presença, perante toda esta destruição? Será que, no licenciamento municipal, ainda há lugar para a preservação do património histórico e cultural do concelho? Será que a mera obtenção do lucro justifica o apagamento dos símbolos patrimoniais que marcam o nosso concelho? [5].
Fotos [6].

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3942

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