A opinião de ...

O Desespero…

Fixemos o tempo, paremos o relógio, retornemos ao fim da era Sócrates, naquele exato momento em que a dita esquerda se uniu à direita, isso mesmo, em que a dita esquerda se uniu à direita e nos ofereceu, mistela venenosa, o mais tenebroso governo da nossa ultrajada democracia.
Oriundo de passado enigmático, formado nas instrutivas fileiras da juventude PPD/PSD, de curriculum invejável, timoneiro Tecnoforma, eis o homem, o novo Messias.
 Esta inigualável empresa, de gestão financeira de topo, com fluxo monetário de único sentido, sustentabilidade sem vendas, no governo mão amiga despacha, basta ter cofre para o aforro e, de seguida, a sublime distribuição. Com esta sabedoria, esperteza mesmo, o povo elege-o como Primeiro Ministro de Portugal, escolhe sem qualquer dúvida, as Direitas Unidas, para nos colocar a todos no sítio, a alguns, claro. Teremos de estar eternamente agradecidos, de joelhos para quem pode, orando, à desinteressada ajuda da dita esquerda por quem tanto suspiramos.
E é aqui, neste ponto, que entra o Rei Mago, um dos três, o Gaspar. Aprendeu nos livros, bem orientado por Lentes do Restelo, dos Velhos Sabedores, uma fórmula mágica, infalível: retira-se à multidão o dinheiro que pagará a divida, mas com uma imposição, não beliscar os Donos disto Tudo. E assim foi, a prensa apertou e a soltura foi à tripa forra, saiu ouro mesmo. O esquecimento trai, a Tecnoforma foi Universidade mesmo, ali aprendeu-se só a distribuir e, como tal, o Estado ficou na Estação do Nunca a ver passar os comboios e a divida, coitada da divida, engordou tanto que ia morrendo de enfarte.
O medo alastrou, psicólogos e psiquiatras encheram consultórios, o exército publico e corporativo assim não brincava, sem direitos adquiridos de distinção não alinhava na reconstrução do país, as reformas antecipadas agigantaram-se e as greves, coitadas das greves, exaustas foram de férias, nunca mais ninguém as viu, com a Direita não se brincava.
A Europa exasperava, mais austeridade impunha-se, os emprestadores não se sentiam ressarcidos pois que a riqueza escapulia-se por entre os caminhos tortuosos das offshores.
Mas o povo, os de sempre, votados ao desemprego, uns para sempre outros sugados no túnel da precaridade absoluta, perderam casas, dignidade, família e vontade de viver, fazem parte do contingente dos envergonhados, sentir-se-ão para sempre párias sociais.
E é agora, com a esquerda no poder, que as frouxas corporações, de cócaras com a Direita, reerguem-se magnânimas, insufladas pela dita esquerda que depende, em absoluto, da função publica e seus sindicatos e das corporações tirânicas e absolutistas.
Este Governo, que teve adesão sincera e esperançosa da maioria silenciosa da Nação, porque exausta, vê fugir, uma vez mais, o fruto do esforço sincero e de dádiva para os que se julgam, sempre, os escolhidos.
Acredito nos ideais, já não nos homens, temo que o cavar no fosso desigual, nos trará não a Esperança, mas sim O Desespero…
 

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