A opinião de ...

O problema da água

A água é um problema cada vez maior. Sobretudo, a falta dela.
No início de agosto de 2025, mais de 51% dos solos na Europa e na bacia do Mediterrâneo estavam afetados, com 7,8% em estado de alarme e 38,7% em alerta.
Os registos satélite mostram que a percentagem de água no solo é cada vez menor nos países do sul da Europa, de Portugal à Turquia. Basicamente, o deserto está a avançar para norte e Portugal está no meio do caminho.
Os períodos de seca são cada vez mais prolongados, as temperaturas cada vez mais altas.
Em Bragança, onde nevava todos os anos, já não cai um nevão digno desse nome há quase seis anos.
Apenas as serras de Montesinho e de Nogueira vão sendo pintalgadas de vez em quando pelo branco da neve. Essa, só se avista ao longe, nas serras espanholas.
A preocupação já vem de trás. Há 15 anos, quando o distrito enfrentou um período de seca severa, que obrigou a fazer a transferência de água em camiões a partir do Azibo, já se dizia que a única forma de regular o consumo de água era aumentando os preços.
Ora, isso coloca, à partida, duas posições antagónicas. Por um lado, a obrigação de serviço público, de disponibilizar água potável à população como forma de propiciar a vida e, por outro, a regulação do consumo desmedido.
Já o Papa Francisco dizia que “a defesa da terra, a defesa da água, é a defesa da vida”.
“Questiono-me então se, no meio desta «terceira guerra mundial em pedaços», que hoje estamos a viver, não caminhamos porventura rumo à grande guerra mundial pela água”, disse o Papa num discurso à Pontifícia Academia das Ciências, a 24 de fevereiro de 2017.
Portanto, a questão que se levanta agora, com a proposta de aumentos tarifários no concelho de Bragança, será apenas a ponta do iceberg.
Porque o problema da água pode vir a revelar-se uma catástrofe, de várias dimensões.
Da dimensão legal, com a resolução de processos em tribunal que podem custar milhões aos cofres do município e que já se vêm arrastando há anos e, por outro, a dimensão concreta da falta de água.
A construção de barragens no concelho de Bragança, sobretudo para rega, vai ser fundamental não só para o desenvolvimento da agricultura e da economia da região mas, sobretudo, para a própria manutenção da agricultura já existente e que permite a subsistência de tantas famílias. Seja pela castanha, seja pelo azeite, seja pela amêndoa.
Se não se começar, seria e rapidamente, a trabalhar nisso, sem medos nem preconceitos, o problema não demorará dez anos a colocar-se. E, aí, poderá já não haver tempo para remediar o estrago.

Até lá, vivam os fait divers...

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