O fim do regime?
Os fins de regime normalmente estão associados ao facto de não haver vontade para enfrentar os verdadeiros problemas que afetam a vida das sociedades. Nesses tempos de fim de regime instala-se a ideia de que a melhor prática é ir adiando, esperando que o tempo traga uma solução; as intervenções dos responsáveis são em certa medida geniais, porque vão sempre no sentido de permitir diferentes leituras, conforme as apetências de cada um, ao ponto de se poder afirmar que essa é a condição essencial de sobrevivência na política desses tempos.
Portugal podia apresentar à Europa a lição que esteve na base da queda do regime em 1974. Independentemente dos juízos de valor sobre as caraterísticas do chamado Estado Novo o regime caiu porque essencialmente não foi capaz de resolver a questão do ultramar português.
Quem ler o livro de Jaime Nogueira Pinto, “Portugal, os anos do fim” não pode deixar de associar tudo o que aconteceu com o que se passa nos nossos dias com a forma como se gere o espaço da zona euro. Tal como aconteceu em Portugal há quarenta anos também agora e com a gestão da zona euro é patente a hesitação e os atrasos nas decisões, o discurso em que se tenta mostrar que tudo vai no melhor dos mundos, as contradições insanáveis e, sobretudo, a perda de confiança dos povos nas instituições e nos seus dirigentes.
Ou a gestão da zona euro surge aos olhos da opinião pública como um processo que se baseia num compromisso claro entre as diferentes partes e interesses envolvidos, com prazos bem definidos, e o espírito federal é patente, ou a Europa ruirá porque, como disse Vasco Graça Moura, “não foi capaz de gerir uma herança comum, por parte dos diferentes povos que dela se alimentam”.
Ou a zona euro se afirma como uma área geográfica de convergência das economias dos diferentes Países que a compõe, ou haverá sérios riscos de a Europa, no seu conjunto, viver tempos de perda de confiança no futuro. Aí será o sentimento de pertença que se esvairá e o projeto de integração económica e política europeia desagregar-se-á.