Pandemia afetou a qualidade do sono
A pandemia de covid-19, que obrigou a dois confinamentos e à mudança de hábitos de sociabilização, é responsável pela degradação da qualidade do sono. Isso mesmo é dito por vários dos intervenientes nestas jornadas.
“Sim, teve uma forte influência na qualidade do sono. Não os fatores propriamente pandémicos relacionados com a infeção mas todos os fatores sociais, comportamentais, sociológicos que a pandemia acarretou. A questão de o ecrã ter passado a ser uma exigência, a socialização com o outro estar muito limitada, limitou o desenvolvimento de competências sociais nos nossos jovens. Por último, todo o stress, a ansiedade de base, a incerteza do futuro, afetou as famílias e os nossos jovens”, explica Ana Sofia Coelho.
Já Gracinda Amaro, professora no Agrupamento Miguel Torga, em Bragança, também notou um retrocesso dos alunos nesse aspeto.
“Aumentaram essas dificuldades e tem custado muito voltar atrás. Mesmo na escola estamos a orientar os alunos para os intervalos, para não estarem sempre com o telemóvel. Isso foram atitudes comportamentais adquiridos com a pandemia”, destacou. Por isso, entende que esta temática deveria integrar os curriculae dos alunos. “Sim, tal como o suporte básico de vida faz parte dos curriculae, o sono também deveria fazer parte, por exemplo, do currículo do nono ano, no sentido de terem bons hábitos.
O mesmo defende Teresa Rebelo Pinto, psicóloga, especializada em sono e uma das responsáveis pelo projeto Sono Escola, implementado a nível nacional a partir de 2010.
“Esteve na rua cerca de nove anos, a viver do nosso voluntarismo. Chegámos a todos os concelhos de Portugal, fomos às ilhas, e sempre a responder a pedidos das escolas.
Esses dez anos permitiram-nos desenvolver um método, que está a ser validado agora para uma versão 2.0 e que vai dar origem a um programa que brevemente as professoras vão poder aplicar nas suas escolas para suprir esta lacuna que é o facto de o sono não estar presente nos curriculae escolares em nenhuma faixa etária”, explicou.
Por isso, esta especialista entende que “é uma necessidade”. “E também vimos que os alunos aderem muito bem”, garante.
Segundo explicou, “o projeto está preparado para que os professores tenham mais materiais para se apoiarem de forma cientificamente válida para poderem fazer a educação do sono nas suas escolas, com os seus recursos, com os seus alunos, porque também é diferente fazerem educação do sono num ambiente mais rural ou citadino, com alunos mais novos ou mais velhos”. “O nosso método permite tratar o sono de diferentes formas, nas diferentes fases da vida mas sempre com uma estrutura rigorosa por trás”, garante.
“Estes programas, para serem eficazes, têm de envolver uma grande motivação para a mudança. Daí que a psicologia tem um papel muito relevante.
A nossa metodologia faz um apelo às estratégicas mais personalidades, envolvendo a tecnologia e alguma componente mais interativa, que para os alunos vai fazer muita diferença, e esta parte de motivar para a mudança”, concluiu.