A opinião de ...

8. 25 de Abril de 1974. Dias Seguintes sob Brasa!

O pronunciamento militar do MFA travou a continuação da guerra em África e apresentou os três D (Democratizar, Descolonizar, Desenvolver) como base programática. Contudo, os 19 meses que se seguiram redundaram em contradições ideológicas no seio do MFA, entre este e a presidência do General Spínola relativamente ao sistema político e a Descolonização, entre os partidos políticos de visão marxista e os de cariz democrático-ocidental e entre aqueles e o Povo. Quanto aos militares, o regresso definitivo aos quartéis só teve lugar em 1982, com a extinção do Conselho da Revolução, até então instituição reguladora do sistema.
DEMOCRATIZAR. A estabilização político-social teve de esperar até 25 de novembro de 1975 e a democratização do sistema só fica viabilizada em 1976, com a aprovação da Constituição, a eleição por sufrágio direto e universal do Presidente da República Ramalho Eanes e do Governo Constitucional de Mário Soares. Efetivamente, entre a «Maioria Silenciosa» de 28 de setembro de 1974 e o golpe falhado de 11 de março de 1975 de Spínola, a instituição do Concelho da Revolução pelo MFA, as eleições para a Assembleia Constituinte, que negou a rua comunista de Álvaro Cunhal e da extrema-esquerda, os governos de proletariado de Vasco Gonçalves e a arbitrariedade atuante do COPCON de Otelo, a anarquia política e social instalou-se e a revolução redundou no «Verão Quente de 1975». Com a «sombra» de uma guerra civil a pairar no horizonte, contaram-se as espingardas. Foram políticos como Mário Soares e o seu comício na Fonte Luminosa e militares como o Brigadeiro Pires Veloso, a Norte, e o Tenente-coronel Ramalho Eanes e o Major Jaime Neves, entre outros, em Lisboa, que travaram a deriva da esquerda revolucionária e de uma ditadura marxista-leninista em Portugal.
DESCOLONIZAR. É norma instituída afirmar-se que o processo foi o possível atendendo aos constrangimentos políticos, militares e sociais verificados na metrópole e nos domínios ultramarinos ao longo de 1974-75. Trata-se de uma afirmação que aligeira responsabilidades políticas e militares, individuais e institucionais, pois pior descolonização era impossível. Por um lado, o slogan homicida «nem mais um soldado para as colónias» obrigou centenas de milhares de portugueses a abandonaram bens, negócios e famílias em África, sendo repatriados sob pressão e «de mãos a abanar» para o continente, «carregando a cruz» de retornados. Por outro, a ideia suicida de que descolonizar significava o regresso imediato das tropas à metrópole, abandonou muitos portugueses «à sua sorte» e ignorou os muitos africanos que combateram pela «Bandeira das Quinas» e os que sentiam (e queriam ser) portugueses, acabando por sofrer as sevícias da nomenclatura local que se instalou. Na realidade, ao se entregar «de mão beijada» o poder aos movimentos marxistas, sem dar voz de escolha às populações, mergulhou-se Angola e, depois, Moçambique em longas e fratricidas guerras civis, com mortos contados às dezenas de milhar. A Descolonização provocou ainda a intoxicação ideológica do pacato território de Timor-Leste, colocando-o internamente a ferro-e-fogo e à mercê da subsequente ocupação brutal da Indonésia. Quanto a Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, territórios por onde a guerra «não tinha passado», foram ignorados, quando a vontade de autonomia com Portugal era uma realidade.
DESENVOLVER. Verifica-se a partir de 1986 com a adesão à Comunidade Económica Europeia e os governos de Cavaco Silva, altura em que Portugal finalmente «descobre» o continente europeu, no dizer sarcástico de Agostinho da Silva, que conheceu um certo fulgor até finais do século. Altura que a mantra do atraso português se impõe novamente e o regresso à cauda da Europa é realidade!
Com a Descolonização africana «à la carte», a entrega de Macau à China em 1999 e a emancipação de Timor-Leste em 2002, Portugal retorna às fronteiras europeias do Tratado de Alcanices de 1297, acrescidas dos arquipélagos dos Açores e da Madeira. Hoje é um pequeno Estado Democrático a oscilar geopoliticamente entre o Atlântico e a Europa, de relações de amizade com os Povos Lusófonos!

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