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A Agricultura VIII - Lavoura e lameiros

O trabalho das hortas, como dos restantes terrenos, começava na lavoura e esta tinha muito que dizer. Se algumas hortas mais pequenas eram cavadas à mão, a generalidade, recorria à tracção animal. Uma burra, uma vaca ou juntas de vacas e machos ou mulas, eram a regra para os terrenos de maiores dimensões. Quem os tinha trabalhava para os demais, à jeira, por permuta de serviços ou simplesmente por solidariedade. De qualquer forma a lavoura era muito demorada e era um serviço pesado. Na época, a área utilizada regional era muito superior à actual e era toda feita sem mecanização.
O trabalho era pesado. No fim de cada rego, era necessário inverter o sentido, levantando em peso o arado, em suspensões bruscas, sucessivas, conduzindo o animal para a direcção oposta. Passavam-se semanas a lavrar, sobretudo quem tinhas extensões maiores, de cereais ou árvores (olival, amendoal, etc). As lavouras eram a base da agropecuária e eram antecedidas pelo espalhamento dos estrumes animais, que deveriam ser enterrados durante a lavoura. Tudo era trabalho de braços, a carga e descarga dos estrumes, o seu espalhamento e a lavoura. Mais tarde, também a colheita. Os animais forneciam a tracção para estas actividades.
A posse de um ou dois animais, adestrados para lavrar, identificavam uma casa com mais posses e mais bem apetrechada para a vida da lavoura. Em especial as vacas, para além da força de trabalho, produziam os estrumes e tinham um vitelo por ano, tudo bens essenciais. Para além da charrua, eram necessárias outras alfaias como o jugo, meleias, albardas (caso dos machos ou mulas), rolo, grade e o carro respectivo, para os transportes.
Fossem vacas, machos ou mulas havia sempre a necessidade de os alimentar e tratar. Para isso, existiam os lameiros, terrenos de alta qualidade onde crescia o prado natural. Eram geralmente terrenos de terra funda e pouco inclinados, perto de regatos, de onde se conduzia a água por valas, em cota, que depois se ia esvaindo pela área do mesmo, durante o inverno e primavera, enquanto os regatos corriam. Abrir um poço no chão de um lameiro, era um assombro: eram metros de terra escura, solta, sem pedra alguma. Isto significa terreno de aluvião com séculos de utilização, alimentado pela erosão das encostas vizinhas. Ocasionalmente aparecia um veio de areia, onde em tempos deveria ter corrido um ribeiro. Centenas de gerações de animais tinham ali sido apascentados. E normalmente encontrava-se água, pelo menos nos lameiros que não eram de encosta. As paredes do poço eram erguidas com as pedras trazidas da vizinhança, paredes grossas para aguentar o peso da terra molhada circundante, que também armazenavam água. Os lameiros tinham sempre olmos nas bordaduras e freixos espalhados pelo meio. Os primeiros davam um corte para madeira, quando necessária, os segundos davam sombra, lenha e folha, no verão. Os mais velhos, e com buracos, também davam repolgas.
O freixo era outro símbolo de Trás-os-Montes, alto forte e imponente, no lameiro.

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