A Agricultura X- Fenos, pastos e animais
Havia ainda culturas de Outono-Inverno e de Primavera-Verão destinadas à alimentação dos animais, as ferrãs (aveia, cevada) que eram cortadas em verde, por Fevereiro a Abril. As milharadas, para consumo em verde, eram também vulgares, mas mais frequentemente destinadas à produção de grão para as aves de capoeira. O milho em Trás-os-Montes era uma fracção do que era produzido nas regiões litorais.
Durante o Verão, após a recolha do feno, os animais usavam o lameiro como pasto, que ia crescendo durante o verão, pelo menos enquanto os regatos tivessem água disponível. Mas, localizados quase sempre em terras frescas, iam sendo suficientes para manter os animais. Estes lameiros eram cercados de paredes, guarnecidas com silvas secas ou aramadas, para que os animais em pastoreio não saíssem para terrenos alheios. Era aqui que passavam o verão, enquanto não havia novas lavouras, e todos os fins de tarde alguém lhes abria a porta do prado, encaminhando-se totalmente sós para a porta dos seus abrigos, onde ficavam à espera que alguém os encerrasse. Mais tarde, pela noitinha, ia-se acomodar a cria, ou seja, colocar um pouco de feno ou palha na manjedoura para o período nocturno.
Outro alimento frequente para alimentação de vacas era o nabal e a beterraba, que se recolhia no inverno avançado. Fazer o nabal significava arrancar os nabos, limpar a terra do tubérculo com uma seitoura (vulgar foice) e dispô-lo em molhos para posterior recolha. Este alimento era mais frequente nas explorações que possuíam vacas leiteiras. Era também um trabalho pesado pelo frio, pelo esforço de arrancar as plantas, em solo por vezes quase congelado, e pela posição de trabalho, que obrigava a estar amarrado longos períodos de tempo. Um nabo dos pequeninos, acabado de arrancar, bem limpo de terra com a própria seitoura, fresco da geada, é também algo que se não esquece.
Frequentemente as ovelhas e cabras aproveitavam também os lameiros, mas eram sobretudo vacas e muares quem era aqui alimentado. Isto devia-se a que aqueles estavam mais adaptados a pastoreio extensivo, errante, dada a sua natureza gregária. Bovinos e muares beneficiavam assim do trabalho árduo dos seus donos, contra as tarefas pesadas que para eles executavam.
Puxar carroças com pedra para as paredes, uvas, na vindima, lenha, para ida à feira são tarefas que os pobres bichos aprendem desde cedo. O mais violento era certamente o período de lavouras, que durava semanas seguidas. O trabalho que o lavrador tinha com os animais e o retorno que deles tirava, explica a afeição que tinha por eles. Deles dependia a sua subsistência e tinham de se manter fortes e vigorosos. Se havia neve, não havia pasto, mas o feno estava assegurado. Todos tinham uma loja onde ficar, longe do frio da noite, água para beber e descanso sempre que necessário. Era uma relação quase simbiótica.
O burro, ou a vaca, em representação dos demais, é outro ex libris da agricultura transmontana dessa época.