A opinião de ...

Um olhar “(des?)complexo” sobre educação

O conhecimento tem surgido, nas nossas escolas, fragmentado, descontextualizado, formatado e hierarquizado, porque subjugado ao cumprimento de um currículo “de tamanho-único-pronto-a-vestir”. Essa forma de o conceber tem condicionado o espaço, o tempo, os conteúdos e as próprias estratégias de ensino, numa lógica que dificilmente se coaduna com uma perspetiva colaborativa, participada, integradora e interdisciplinar. Edgar Morin afronta-nos referindo que vivemos obstinados pela convicção reducionista de que as partes isoladas e separadas nos dão a compreensão do todo. Mas, na verdade, se olharmos para um sistema complexo, essa obstinação reducionista, que só vê as partes, pode dar lugar a um deslumbramento que contempla o todo.
Não nos culpabiliza por pensarmos desta forma, uma vez que reconhece que estamos condicionados pela cultura e ensinamentos que experienciamos ao longo da vida. No entanto, adverte sobre a urgência de uma reforma do pensamento para que se possam mudar as práticas educativas, no sentido de responder com mais competência e habilidade aos desafios da globalidade, da complexidade da vida e do mundo. O todo integra, assim, vários elementos que o formam, nomeadamente tudo aquilo que lhe atribui ordem, clareza, distinção e precisão. Olhar o mundo numa perspetiva global, de modo ecológico, holístico, multidisciplinar e sistémico permite-nos perceber a conexão entre os fenómenos. Sendo assim não podemos ver as coisas dissociadas (apenas com uma peça não construímos um puzzle… precisamos de todas as peças, mas também precisamos de um referente – a imagem no seu todo, completa e íntegra). Devemos, por isso, ter em mente que a escola deve valorizar o pensamento complexo, ou seja promover um saber não fragmentado, não redutor. Penso que esse é o grande problema da educação atual, a fragmentação do conhecimento. Esta prática impede um olhar mais amplo e completo sobre a realidade, dificultando análises e reflexões que permitem encontrar as relações e as conexões existentes entre as mais diversas áreas que a constituem, dificulta-nos o pensamento divergente. Assim, cabe aos professores implementarem dinâmicas educativas, visando o estabelecimento de relações entre as diversas disciplinas. A interdisciplinaridade é uma possibilidade educativa que permite superar a visão fragmentada da produção de conhecimento e de articular as inúmeras partes que compõem os conhecimentos da humanidade.
Termino este artigo, que surgiu na sequência da leitura de algumas obras de Edgar Morin, realçando que o seu pensamento se constituiu num estímulo para refletir sobre métodos que possibilitam a articulação entre os saberes. É, pois, necessário que se ultrapassem as amarras da hierarquização curricular, dando às crianças possibilidades para desenvolverem o pensamento complexo, ou seja, aberto, abrangente e flexível.

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3937

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