A opinião de ...

Epístola do «Cimo de Portugal» aos donos disto tudo

Senhores

Os senhores andam assustados, desorientados e tontinhos com tudo o que bos rodeia.
Podíamos pensar que é por causa da pandemia.
Podíamos pensar que é por causa das assimetrias que fazem deste país um país torto e manco.
Podíamos pensar que é por causa das desigualdades sociais que minam este país e infectam o pobo, há muitas décadas.
Podíamos pensar que é por tudo e por nada.
Até podíamos pensar que é por causa de basuca europeia que bai trazer tanto dinheiro que até se bai arramar e bós quereis estar ó pé da mesa para abocanhardes as migalhas soutra coisa nun bos tocar qué o que tendes feito nos últimos 50 anos.
Mas não.
É, apenas, por causa da bosa estupidez e ignorância.
Bós nun conheceis o país que bos intregarun p’ra gobernar.
Bós nun sabeis que o pobo que bibe neste país é um pobo sério, trabalhador que quer fazer tudo p’ra ter um futuro melhor do que o passado que bibeu. Mas tamén é berdade – e bós sabeis bem- quese pobo tem moinas, bádios e trabalhadores de jornada contínua que apenas pensam na maneira de biber à custa dos que trabalham para bos sacarem o rsi in troca do botinho.
E bós assobiais p´ro lado cmós pardais.
Depois, e de bez inquando, falais caro p´ra ninguém bos entender. Falais in transição icológica, in transição digital, in progresso e desenbolbimento do Interior, in 5G e noutras panteminices que nun pasam dun inchente de rir.
Fizesteis ua festa cua ligação por cabo submarino p´ra América Latina.
Mas nun sabeis q’uin Guadramil, Petisqueira, Portelo, Rabal, Bilarinho, Zeibe, Alimonde e outros pobos aonde continua a biber gente nun ai televisão, telemóvel ou internet.
E tamén nun sabeis c’os pobos espanhois q’estão ó lado tem tudo a que tem direito. Isso bós nun sabeis porque nun conheceis o país que continuais a querer entregar ó’strangeiros.
Falais nua ponte mais do Porto p’ra Gaia.
Falais nua ponte mais de lisboa p’ra outra margem. Mas nun sabeis que na ponte de Santa Catrina, na ponte do Santo Amaro e na ponte do Parâmio nun caben 2 carros ó mesmo tempo. Mas tenho cá ua fezada q’uinda bos bou oubir falar nua ponta de Cascais p’ra Madeira.
Podieis falar q’ué preciso ua estrada noba p’ra Freixo, p’ra Mogadouro, p’ra Macedo, p’ra Alfândega, p’ra Carrazeda, p’ra Miranda, p’ra Bimioso ou p’ra Binhais. Mas nun falais porque – simplesmente- nun sabeis onde ficam, nin sequer sabeis que são sedes de concelho e que bibe lá gente tão importante c’má das abenidas nobas de Lisboa. Por isso eu peço a Deus que bos perdoe porque nun sabeis o que d’zeis nin o que fazeis.
E já ‘gora deixo um conselho:
Se quiserdes fazer ua ponte de Lisboa p’ra Sintra, Mafra, Torres Bedras, Alberca ou Bila Franca fazei primeiro lá um rio;
Se quiserdes fazer outra ponte do Porto p’ra Maia, Balongo, Ermezinde; Santo Tirso, Paredes ou Felgueiras tendes que pôr lá primeiro um rio tamén.
C’mo cidadão tenho pena c’meu país esteja intregue a ua cambada de estúpidos e ignorantes. Até pareceis o Jesus a treinar o Belenenses que nun sabia onde era Bragança...
Senhores
nun há televisão no interior
nun há telemóveis no interior
nun há comunicações móbeis no interior
nun há internet no interior
nun há luz sim cortes
inda a treboada bem no Marão já stá a falhar a luz in Bragança.
Nós sabemos q’uisto a bós nun bos interessa. Nós sabemos. Mas tamén sabemos que todo o cidadão tem o direito de ser parbo e bós stais abusar dese direito.
E sabendo ainda que sendo um pobo que nun se goberna nin se deixa governar depois queixamo-nos que na rifa nos saiem uns cromos c’mo bós.

Edição
3837

Assinaturas MDB