A opinião de ...

TER SENTIDO DE ESTADO

Os resultados eleitorais já fizeram correr muita tinta. Com análises e equações para todos os gostos. Há, no entanto, algumas conclusões óbvias. A abstenção, ao contrário do que se chegou a anunciar, subiu. A esmagadora maioria dos portugueses votou contra a austeridade. A coligação PSD/CDS ganhou, perdendo votos e mandatos. Obteve menos votos que o PSD sozinho na anterior legislatura. Pior resultado para os dois partidos juntos, só em 2005, quando o PS conquistou a sua primeira maioria absoluta. O PS perdeu, ganhando mais votos e deputados. Melhorou os resultados em relação às legislativas de 2011 e também em relação às europeias de 2014. Nenhuma força política conseguiu a almejada maioria, exigência presidencial e garantia imediata de condições de governabilidade. Agora, na Assembleia da República, os eleitos pelo PS, pelo BE e pela CDU somam uma confortável maioria.
Perante estes resultados, o senhor Presidente da República, que tinha equacionado todos os cenários possíveis e para tudo tinha solução, em vez de ouvir todos os partidos representados na AR como decorre da Constituição, optou por ouvir apenas o líder do seu próprio partido e encarregá-lo “de desenvolver diligências com vista a avaliar as possibilidades de constituir uma solução governativa que assegure a estabilidade política e a governabilidade do país”. E o que fez Pedro Passos Coelho? Em vez de procurar consensos, apressou-se a assinar um acordo político com o CDS. Neste contexto, em que o diálogo é mais necessário que nunca, o PR não seguiu o preceito constitucional nem o exemplo dos seus antecessores. Mais uma vez, não foi o presidente de todos os portugueses. E o líder do PSD, alinhou pelo mesmo diapasão. Em vez de dar prioridade ao diálogo com as outras forças políticas para conhecer as condições de viabilização pela AR do programa do governo e do OE, correu a firmar um compromisso com o seu parceiro de coligação. Afunilar não é seguramente a melhor via para alcançar um consenso alargado.
Diferente atitude teve António Costa. Perante a inexistência de uma maioria absoluta de uma só força política e havendo uma maioria de esquerda no Parlamento, o líder do PS soube interpretar os resultados e marcar a agenda política, ao convidar todos os partidos com assento parlamentar a dizerem de sua justiça.
Antes destas diligências, logo na noite das eleições, António Costa deixou claro que será “fiel aos compromissos que assumiu com os portugueses” e que ninguém poderá contar com o PS para viabilizar políticas contrárias a esses compromissos nem para “uma maioria negativa apenas apostada em criar obstáculos sem assegurar uma alternativa credível e real de governo”. Em coerência com estas afirmações e tendo em conta o novo quadro parlamentar, o líder do PS estabeleceu contactos com todas as forças representadas na AR para ajudar a construir a solução que melhor defenda os interesses de Portugal. Está a fazer o que o PR e Pedro Passos Coelho tinham obrigação de fazer e não fizeram. Assim se vê quem tem sentido de Estado e quem não tem. Com quem os portugueses podem contar nos momentos mais difíceis e com quem não podem contar. Quem põe o interesse nacional acima de tudo e quem não põe.  Agora, que cada um assuma a sua responsabilidade para que este novo ciclo político seja melhor que o anterior.

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