A perda de referências
Já é conhecido o vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) para a agricultura, que vem fazer as vezes de Diretor Regional de Agricultura, agora que essa estrutura foi absorvida pelas CCDRs. Trata-se de Paulo Ramalho, atual vereador do Município da Maia (eleito pela coligação PSD/CDS) e ex-deputado do PSD na Assembleia da República como nos conta o Fernando Pires mais à frente, na página 20.
Na realidade, aquilo que esta nomeação significa é a perda de mais um pouco da (exígua) influência do Nordeste Transmontano.
Até aqui, os diretores regionais de Agricultura e Pescas do Norte têm sido, regra geral, figuras da própria região, até porque a sede desse organismo estava a funcionar em Mirandela.
Ou seja, esta nomeação mais não é do que a constatação de que as vozes dos transmontanos já não se conseguem fazer ouvir para lá da serra dos Passos, ali para os lados da área de serviço da A4.
Esta nomeação vem na esteira do que tem acontecido ao longo dos últimos anos. Desde logo, com a saída da sede do Parque Natural de Montesinho e de um responsável pela área protegida aqui no distrito, que fale cara a cara com as populações.
Essa orfandade que os habitantes do Parque vêm sentindo há anos vai ser sentida, também, pelos agricultores da região, um dos setores mais importantes para a economia local e cuja modernização poderia ser o garante de um futuro para os filhos da região.
Mas faltou capacidade dos vários responsáveis políticos, a começar pelos autarcas e ex-autarcas, de fazerem ouvir a sua voz junto do Poder Central, junto do Governo.
Da mesma forma que se nota que a medida tomada por Pedro Passos Coelho em 2012 tem tido uma repercussão grande na perrda de influência da região em vários aspetos. Estou a falar da extinção dos Governos Civis, que funcionavam como um farol, uma referência para as populações, autarcas, atores da sociedade local. Era a presença do Governo no território. Com o fim dos Governos civis, a região perdeu um pouco da sua unicidade. O Poder Central passou a ser apenas isso mesmo, centralizado em Lisboa. Regiões como o Nordeste Transmontano perderam uma referência e uma voz que fazia a ponte com o Governo.
Numa altura em que se desfazem algumas das reformas apressadas impostas pela Troika, estaria na altura de rever também esta.
Um país em que o Estado se limita a estar fechado nos seus gabinetes na capital e que a única presença do Estado nas regiões se limita à cobrança de impostos, é um Estado de vistas curtas e completamente afastado do seu povo.
E isso trará consequências, pois o ressentimento é como um lume brando que arde devagarinho. Basta um bocadinho de oxigénio para explodir em labaredas.