Vasculhar no pó das eleições legislativas
O pó do turbilhão das campanhas para e das análises sobre os resultados das últimas eleições legislativas está assente e pronto a ser remexido para a história da democracia em conjunto com os 50 anos das outras eleições legislativas democráticas.
Pouco adianta dissecar os resultados porque eles não constituem patamar para a futurologia dos resultados de próximas eleições nem tão pouco evidenciar vencedores e vencidos porque a essência da democracia não separa os cidadãos em vencedores e vencidos, antes indica quem ficou com a responsabilidade de coordenar as governações aos diferentes níveis territoriais e político-administrativos e de estabelecer pontes de diálogo com os diferentes grupos partidários e de cidadãos organizados.
Pode não ser este o sentido prático que os arautos da luta pelo Poder dão à democracia e às eleições mas tal sentido representa o lado moral e ético da mesma.
Interessando pouco para o futuro do cidadão comum a lucubração sobre os resultados das eleições, há neles aspectos que é mister realçar. É o que tentarei de seguida.
Eleitores: 6.231.372 em 1975 para 9.182.313 habitantes (67,86% da população); 10.818.226, em 2024, para presumidos 12.480.000 habitantes, no território nacional e no estrangeiro, ou seja, 86,68% da população registada; os eleitores cresceram então 73% mas a população só cresceu 36%. Que se passa? Há eleitores a mais ou população a menos? É preciso investigar.
Votantes. Tendência de perda quase constante: 5.711.829 ou 91,7% dos eleitores, em 1975; apenas 48,97% em 2019, invertendo-se a tendência de perda em 2024 (6.473.789 votantes ou 59,84% dos eleitores, e 6.317.949 ou 58,23%, em 2025. Desde 1975, o número de eleitores veio aumentando mas a participação deles na eleição veio diminuindo, apesar das tímidas inversões de tendência em 2024 e 2025.
Votos úteis (exclusão de nulos e brancos): mínimo de 5,175111 milhões, em 1976; máximo de 6,194290 milhões em 2024, mais 148.000 que em 2025. Afinal, o aumento de população e de eleitores não se traduziu num significativo aumento do número de votantes. É urgente aproximar os eleitores dos locais de voto ou inventar outras formas de participação no voto.
Grandes tendências de voto: prevalência da Esquerda entre 1975 e 1979, equilíbrio entre Esquerda e Direita de 1980 a 2015; leve predomínio da Esquerda entre 2016 e 2023; e predomínio da Direita a partir de 2024. Anuncia-se predomínio da Direita por alguns anos face às tendências internacionais. Só agora o país não parece partido ao meio, em favor da chamada Nova Direita (PPD/PSD-CDS/PP, Chega e outros). A Esquerda nunca foi tão hegemónica como a Direita o é agora. Em 2025, a Direita foi preferida à Esquerda por 65/35. Não é uma vitória, é um esmagamento perigoso.
Corroborando, o partido/coligação mais votado só por uma vez teve menos apoio nas urnas do que em 2025, ano em que granjeou 1.971.559 votos. Aconteceu em 2024: a AD granjeou 1.814.021 votos apesar de o recenseamento ser o que teve mais eleitores (10.818.226). Consequência da fragmentação do espectro partidário, à Esquerda e à Direita.