A opinião de ...

Bloco central para o lixo

expressão “Bloco Central para o Lixo” não é de agora, apesar de se falar, como nunca, nas três últimas décadas e meia, nessa possível coligação governativa. A frase tem apenas um quarto de século e é da autoria de um dos melhores políticos do nordeste, infelizmente já desaparecido. Foi revelada, publicamente, pelo Presidente da Câmara de Vila Flor, Artur Pimentel. Estavam reunidos em Mirandela os cinco autarcas da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana para anunciar o arranque do projeto “Terra Quente, Melhor Ambiente” com que se pretendia construir um Aterro Sanitário e, consequentemente, erradicar as quatro lixeiras ativas naquele agrupamento de municípios. Três deles eram do Partido Socialista (Manuel Cunha de Alfândega da Fé, Luís Vaz de Macedo de Cavaleiros e Artur Pimentel de Vila Flor) e dois do Partido Social Democrata (João Sampaio de Carrazeda de Ansiães e José Gama de Mirandela, tendo mais tarde e em boa hora, dado o lugar a José Silvano) daí a propriedade com que retomou a terminologia da década anterior para caracterizar a convergência política. José Gama era, na altura, o mais mediático de todos, tendo, em algumas alturas e, sobretudo, noutras áreas, ajudado muito a realização de benfeitorias, neste caso, as suas aspirações pessoais podiam ter condenado este processo muito delicado e sensível, como, certamente, muitos dos leitores saberão.
O principal motivo que levou, em 1982 os quatro municípios fundadores (Alfândega, Carrazeda, Mirandela e Vila Flor) a associarem-se foi, precisamente, a melhoria do sistema de recolha e depósito de resíduos sólidos urbanos. Contudo, depois do estabelecimento da recolha integrada, no que toca ao depósito, após algumas experiências falhadas, em 1993, quando o projeto atual começou a ser equacionado, o panorama era ainda desolador. Idêntico ao existente por todo o distrito (em Vila Real, embora ainda de forma embrionária, já avançava uma solução integrada) havia contudo uma situação de gritante mal-estar, de permanente insalubridade, de agressão ambiental e de prejuízo evidente e grave da população urbana: a lixeira de Mirandela!
Paredes-meias com os bairros de sudeste, nas proximidades da Reginorde, o monturo espalhava mau cheiro, sobretudo no verão, e fumo nauseabundo que invadia a área urbana quando soprava o suão ou quando o conhecido “capacete de nevoeiro” se instalava sobre a Princesa do Tua. Daí a adesão dos associados ao projeto que contou com um aliado forte e constante, Manuel Moras, diretor do Gabinete de Apoio Técnico da Terra Quente que abriu as portas necessárias na Comissão de Coordenação e ajudou a levá-lo ao seu Vice-Presidente, Ricardo Magalhães, para além de fornecer o necessário e utilíssimo apoio técnico.
Muitas foram as peripécias, as motivações e as vicissitudes do processo, de que haveremos de dar nota em futuros textos, mas, apesar delas, em setembro de 1997 o Secretário de Estado, José Sócrates inaugurava o primeiro (e único) aterro sanitário do nordeste transmontano.
Com o lixo, ficou enterrada, no Cachão, a frase que titula este texto. Assim deverá, na minha modesta opinião, ficar igualmente enterrada e sem possibilidade de ressuscitação a solução governativa que liderou os destinos da nação, entre 1982 e 1986.

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3859

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