A opinião de ...

O dia depois

Não me é fácil comentar os resultados eleitorais do passado dia 29 de Setembro. Um amigo meu estranhava esta minha incapacidade e aduzia duas razões: integrei uma lista e uma equipa que obteve a maioria absoluta dos votos e foram validadas as teses que publicamente defendi. É verdade, mas não é tudo! Apesar da representatividade adicional que o número superior de eleitos confere à Assembleia Municipal, a verdadeira disputa eleitoral faz-se à volta das candidaturas para a Câmara Municipal e para as Juntas de Freguesia.

É certo que a tese de que seria um erro grave os candidatos do PS acantonarem-se sob a bandeira partidária seguindo o exemplo do lider socialista vingou nas urnas. Foi aliás mais longe. Não é óbvio que nenhuma derrota significativa dos candidatos do PSD se tenha ficado a dever ao percurso governamental dos últimos dois anos. Mesmo sendo certo que igualmente não ajudou. E é aí que reside o meu problema. Querendo ser justo, não posso deixar de reconhecer que muitos candidatos social-democratas viram acrescidas as suas dificuldades em fazer chegar a sua mensagem e propostas de desenvolvimento sob a insígnia do partido da austeridade, dos cortes e do encerramento de serviços, em qualquer lugar, mas sobretudo no interior. Injusto seria eu, igualmente, se quisesse atribuir a vitória de vários candidatos socialistas a qualquer “passadeira vermelha” estendida a partir de S. Bento, apesar de tudo o que disse e escrevi durante a pré-campanha eleitoral. Pior ainda para alguns destes (não para todos, obviamente) que, “apesar destas ajudas”, não conseguiram conquistar ou sequer manter a confiança dos seus eleitores.
– Ganharam os melhores – rematou o meu amigo refugiando-se nesse lugar comum.
Mas nem nisso pude concordar.
Os “melhores” de hoje são, em muitos casos os mesmos que foram preteridos há quatro anos sem que seja conhecida substancial diferença na pessoa. É certo que a malfadada lei da limitação de mandatos veio introduzir novos dados, novas realidades. Contudo, seria tremendamente injusto para todos, circunscrever a essa aberração legislativa todos a vitórias e derrotas que coroaram a noite eleitoral.
Queira-se ou não, não é possível escapar a mais um lugar comum. O povo, na sua sabedoria, fez a melhor escolha. Por uma razão simples. Porque escolheu para ele o que só a ele competia escolher. Ou seja, a escolha foi a melhor porque outra não seria possível ou admissível.

Que os eleitos (no poder e na oposição) saibam dignificar a decisão soberana dos eleitores.

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3442

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